"Como o setor reagiu tão rapidamente, com críticas, dúvidas e questões, nós vamos suspender [o TV Fest], ia estrear hoje, será suspenso hoje. Vamos repensar e perceber exatamente como manter este nosso objetivo de apoiar o setor da música e os técnicos e, ao mesmo tempo, dar a possibilidade de as pessoas receberem em sua casa música portuguesa", afirmou hoje a ministra da Cultura, Graça Fonseca, em declarações à Lusa.
Este projeto, criado pelo Governo no quadro de apoio, no âmbito da crise causada pela pandemia da covid-19, e destinado "exclusivamente" ao setor da música, tinha estreia marcada para hoje à noite, no canal 444, nos quatro operadores de televisão por subscrição em Portugal, e na RTP Play.
Em cada programa atuariam quatro músicos. Os primeiros quatro, escolhidos pelo apresentador de televisão Júlio Isidro, foram Marisa Liz, Fernando Tordo, Rita Guerra e Ricardo Ribeiro. Estes quatro músicos convidariam outros quatro, e daí em diante.
O projeto foi anunciado, na terça-feira à noite, pela ministra, na RTP.
Depois do anúncio, várias pessoas, entre músicos, atores e outras figuras ligadas ao setor cultural, mostraram, sobretudo através das redes sociais, a sua indignação com o projeto.
Na quarta-feira à tarde, surgia 'online' a petição pública "Pelo cancelamento imediato do festival TV Fest", que, menos de 24 horas depois, reunia mais de 18.600 assinaturas.
De acordo com a ministra, com este projeto seriam abrangidos "160 músicos", "de todos os estilos musicais", a quem era pedido que "envolvessem sempre equipas técnicas", o que significaria o envolvimento de "cerca de 700 técnicos", ao longo dos vários programas.
Graça Fonseca explicou que estavam já gravados três programas e que "suspender o projeto para repensar não significa não retribuir aos 12 músicos que já gravaram". "Este nosso repensar é envolvendo evidentemente aqueles que já o fizeram", afirmou.
Agora, não há previsões de quando o programa começará a ser exibido.
"Nós fomos rápidos com vários parceiros a montar um projeto. Por vezes somos acusados se sermos lentos e burocráticos, neste caso essa parte ninguém pode dizer que fomos. O setor também foi rápido a reagir, e nós agora, para não sermos rápidos, vamos suspender, vamos repensar e depois para a semana, veremos", referiu Graça Fonseca.
O Governo destinou um milhão de euros para o projeto TV Fest, valor que, de acordo com a ministra da Cultura se trata de "um reforço" conseguido no Orçamento do Estado.
O projeto, sublinhou, "não é uma parceria com a RTP nem para financiar a RTP". A verba em causa "é destinada a pagar músicos e técnicos".
"Esta verba foi planeada para pagar o trabalho dos artistas que o têm feito de forma não remunerada", afirmou, referindo-se aos concertos que vários músicos têm dado nas últimas semanas em direto através das suas páginas nas redes sociais.
O TV Fest surgiu da constatação que "os músicos e os técnicos são os mais fora dos diferentes apoios disponíveis na fase de emergência, tanto de entidades públicas como privadas".
Graça Fonseca salientou que o TV Fest é um projeto que tem "apenas objetivos públicos".
"Foi assumido como um projeto de política pública, que reconhece a importância da música em geral, muito em particular neste momento, que, neste momento também, da parte do Governo, há uma preocupação e uma vontade de ir ter com as pessoas que estão em casa e terem algo que continue a mantê-las ligadas à música", disse.
O TV Fest chegaria "a casa de pelo menos 90% das famílias portuguesas", através de um canal "que as quatro operadoras iam abrir para todos".
"O quanto seria mais difícil passarmos por isto, estarmos em casa sem termos música, sem ler um livro, sem a televisão nos dar uma peça de teatro?", questionou.
A ministra reiterou que o Governo pensou "numa iniciativa inédita para um tempo inédito", mas "como não foi assim compreendido e perante as reações", o TV Fest será "suspenso e reavaliado". "Agora já não com tanta rapidez como quando montámos o projeto", disse.
A pandemia da covid-19 levou, nas últimas semanas, ao adiamento e cancelamento de centenas de espetáculos, deixando milhares de artistas e técnicos sem trabalho.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 89 mil.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu, com mais de 787 mil infetados e mais de 62 mil mortos, é aquele onde se regista o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, contabilizando 17.669 óbitos em 139.422 casos confirmados até quarta-feira.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 409 mortes, mais 29 do que na véspera (+7,6%), e 13.956 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 815 em relação a quarta-feira (+6,2%).
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado no dia 02 de abril na Assembleia da República.