A investigadora vai presidir o 34.º congresso da APDC, que este ano decorre entre 01 e 02 de julho sob o mote "Science & Business: Working Together", a ciência e o negócio a trabalharem em colaboração.
Questionada como vê a atual situação dos EUA, não só em termos geopolíticos, como também nas políticas antidiscriminatórias e posições relativas à vacinação, a investigadora afirma que "é um impacto brutal".
No início deste mês, uma segunda criança que não estava vacinada contra o sarampo morreu nos EUA.
"O mundo, como o conhecemos, deixa de existir, esperemos que seja por um período de curto tempo, mas é um impacto brutal", sublinha a presidente executiva (CEO) do Gulbenkian Institute for Molecular Medicine (GIMM).
"Temos que pensar que não foi de um dia para o outro que isto foi acontecendo, mas claro que o impacto desta natureza em tão poucos meses, com a entrada de um novo presidente, num país que tem um poder enorme sobre o mundo e de influência", tem impacto.
Até porque "vivi em Nova Iorque durante uns anos e nunca previ que os EUA pudessem chegar a este ponto, esperemos que dure pouco tempo, que haja uma contraproposta, uma contrarrevolta e que simplesmente não se enverede por estes caminhos", prosssegue a investigadora.
Mas "acho que isto não é só a América, estamos num mundo todos um pouco assim", lamenta Maria Manuel Mota.
Se outrora era "muito natural" que num grupo de amigos, em que uns votam direita e outros esquerda, debater vários temas entre todos e até gozar com quem está no poder, o que "faz parte de um exercício [...] saudável", tal já não acontece, aponta.
"Neste momento, e não é de agora, esse exercício deixou de ser saudável. Se alguém não está connosco, é nosso inimigo, isso é algo que é, obviamente, um clima pré-guerra e nós temos que escolher o que queremos ou o que não queremos", enquadra a cientista e CEO do GIMM.
A investigadora defende mais conhecimento para que as decisões sejam racionais.
"Se nós tivermos uma sociedade que tem mais conhecimento, que entende melhor o mundo, as decisões podem ser mais racionais, especialmente se nós compreendermos os métodos que a ciência usa para encontrar respostas, que são métodos racionais", considera.
"Acho que podemos encontrar sempre formas de discutir de forma saudável e não de discutir de forma pouco saudável e em clima pré-guerra", insiste.
Embora não tenha uma bola de cristal para resolver a questão, diz a sorrir que o melhor é "pôr a América em 'lockdown' até estar curada".
Agora, "não podemos permitir contágio", pensar que o mundo todo vai ficar assim, adverte.
"Não acho, esperemos que não, e temos que lutar para que isso não seja a realidade", conclui.
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