"Cremos, sinceramente, que o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC) não se irá arrepender da decisão de manter a atividade de transplantação e tratamento oncológico, enquanto, em simultâneo, dá o seu enorme contributo para o combate a esta terrível pandemia (covid-19), salvando vidas, umas e outras. Muitos hospitais a nível mundial estão a tentar fazê-lo; o CHULC está em condições de o conseguir, com sucesso", refere o documento do Grupo dos Transplantes do Hospital Curry Cabral (GTHCC).
O grupo lançou na segunda-feira a petição pública "Pela manutenção do tratamento dos grupos de risco durante a pandemia", que conta até ao momento com 2.168 assinaturas.
No documento enviado esta noite à administradora do CHULC, o grupo recorda que o pedido de demissão de Américo Martins do cargo de diretor da área cirúrgica e transplantação do Hospital Curry Cabral foi causada pelo facto de a administração não ter aceitado a proposta apresentada para a criação de "circuitos independentes não-covid" no Curry Cabral, de modo a garantir a segurança das intervenções e atividades e evitar qualquer risco de infeção por covid-19, de doentes e profissionais.
"Como compreenderão temos a maior confiança em Américo Martins e na sua equipa, que possuem uma vastíssima experiência e uma taxa de sucesso hospitalar que muito vos orgulha certamente, e que tanto prestígio dá ao CHULC, pelo que, mesmo não conhecendo a referida proposta, vimos apelar para que reconsiderem e, por outro lado, que não aceitem o pedido de demissão", apela o grupo.
?O diretor do Serviço de Cirurgia Geral e Transplantação do Hospital Curry Cabral, Américo Martins, que apresentou a demissão na quarta-feira disse à Lusa que o Conselho de Administração deve aceitar o plano de reorganização que os médicos apresentaram.
"Tem de haver um recuo por parte da Administração até pela dimensão do apoio que estamos a ter: os doentes transplantados já fizeram uma petição ao Presidente da República e ao Governo e a nível interno os cirurgiões estão todos unidos contra o Conselho de Administração. Só têm uma alternativa, têm de recuar", afirmou o cirurgião, sublinhando total incompreensão sobre a posição tomada.
"Ou é incompetência ou não sei classificar, talvez estejam a levar à letra o que o Governo, ou pelo menos o que o Ministério da Saúde defendeu no mês passado sobre fazerem do Curry Cabral um hospital covid. Agora, até acho que já nem é necessário e, por isso, criámos um plano alternativo e independente sem covid", disse, alertando que há outros doentes que precisam de ajuda urgente.
"Nós só operamos doentes oncológicos prioritários e transplantação e queríamos criar um espaço totalmente independente para continuarmos a nossa atividade - em termos mais reduzidos - mas a continuarmos a operar todos aqueles doentes que correm perigo de vida e que têm de ser operados", sublinhou o diretor do serviçp.
"Eu demiti-me porque o Conselho de Administração quer levar para a frente um plano que inviabiliza a criação de um circuito totalmente independente aqui no Curry Cabral e não querem recuar e se não recuam não é possível criar um circuito alternativo e independente, para os doentes que não são covid", disse à Lusa Américo Martins, frisando que a mudança poderia ser feita sem custos e em pouco tempo.
Entretanto, o corpo clínico do Centro Hepato-bilio-pancreático e de Transplante do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, demonstrou hoje em carta aberta o apoio ao diretor do Serviço de Cirurgia Geral e Transplantação e pede intervenção da tutela para a aplicação da proposta dos especialistas.
"O corpo clínico vem expressar a total solidariedade com a decisão de Américo Martins. A concretização da sua proposta, permitirá retomar a atividade deste centro, tratando adequadamente os doentes como até ao início da pandemia, sem prejuízo dos doentes covid-19 positivos", escrevem os especialistas do Curry Cabral.
Por este motivo, o corpo clínico apela às entidades competentes que intercedam junto da tutela para evitar o desmantelamento de um dos "maiores centros de referência do país e da Europa" sublinhando que querem continuar a tratar doentes que "tanto precisam".
Segundo os médicos, "estes circuitos permitiriam tratar de forma separada e segura os dois grupos de doentes", no Curry Cabral rejeitando a proposta de mudança.
"O Hospital de Santa Marta não apresenta as condições mínimas para receber um centro com as características e necessidades do CHBPT do Hospital Curry Cabral", alertam os especialistas na carta aberta.