Uso de máscaras, sim ou não? O tema tem criado alguma polémica. A Organização Mundial de Saúde (OMS) nunca recomendou o uso generalizado e, por cá, Ministério da Saúde e DGS têm defendido que a utilização de máscaras pode causar uma "falsa sensação de segurança" e que, aliás, não é uma medida milagrosa por si só.
Contrariando estes argumentos, nasceu o movimento #MáscaraParaTodos.
"No nosso país, como no mundo, têm sido numerosas as medidas aplicadas para a contenção da pandemia. Mas há mais a fazer: desde logo, recomendar o uso, por toda a população, de máscaras de protecção individual nos espaços públicos", defende o movimento a que se associam vários especialistas em saúde pública.
O uso de máscaras nos espaços públicos, recordam os especialistas, "é uma medida que a esmagadora maioria dos países ocidentais, ao contrário do que se verifica em países como a China, Singapura, Taiwan, Coreia do Sul e Japão, ainda não aplicou". A escassez de máscaras de protecção leva a que devamos preservar os stocks para quem deles mais necessita (os profissionais de saúde) é a explicação. Mas tal, defendem, "não é incompatível com a distribuição, entre a população, de máscaras de efeito preventivo equivalente às das máscaras cirúrgicas".
Os vários especialistas, incluindo o próprio bastonário da Ordem dos Médicos, sublinham que a utilização de máscaras cirúrgicas (distintas das FFP2, recomendadas a quem tem contacto próximo com doentes infectados) "limitam, não a inalação, mas a emissão e difusão de partículas por parte de qualquer pessoa infectada ou potencialmente infectada".
Ou seja: "Se formos portadores de uma máscara cirúrgica, bem colocada e manuseada, estamos a proteger aqueles que nos rodeiam. E se todos o fizermos sempre que circulamos em público, estamos a proteger-nos uns aos outros".
Por esse motivo, e da mesma forma que deve ser generalizada a utilização de máscaras em meio hospitalar, "deve ser recomendado o seu uso na comunidade, sem nunca dispensar o distanciamento social, a etiqueta respiratória ou a lavagem frequente das mãos".
Havendo limitação de stocks, qual a solução?
A solução apontada pelo movimento é motivar a sociedade civil a produzir e distribuir máscaras de fabrico caseiro. "Foi o que fez a República Checa, com um programa cujo sucesso levou à utilização quase universal de máscaras individuais e reutilizáveis, num programa alicerçado num movimento de cidadãos com apoio da comunidade médica. Mais recentemente, o uso de máscara em público tornou-se também obrigatório na Áustria", exemplificam, sublinhando que é exatamente isso que advogam para Portugal e para já.
Tratando-se esta de uma doença em muitos casos assintomática, "é fundamental implantar o uso de máscaras de protecção nos espaços públicos". "E para isso é necessário motivar a sociedade para a produção e distribuição de máscaras de protecção individual, sob pena de agravarmos a situação em que nos encontramos", avisam.
Além de Miguel Guimarães, integram a comissão científica do movimento o reitor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Fausto Pinto, o pneumologista Filipe Froes, Miguel Moura Guedes, Paulo Neves e Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública.
A mesma ideia tem sido defendida pelo ex-ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, argumentando que o uso generalizado de máscaras nos espaços públicos será um elemento essencial para o país iniciar progressivamente a retoma da vida profissional e social.
O Sindicato Independente dos Médicos também já manifestou apoio ao uso generalizado de máscara.