"Aquilo que vejo e encontro é que primeiro, ao nível oficial, há uma preocupação na comunicação em português e vejo uma procura imensa sempre que abrimos as candidaturas das pessoas quererem vir para a Escola Portuguesa de Díli, tanto pela qualidade do ensino, como para aperfeiçoarem e desenvolverem a língua portuguesa", disse Acácio de Brito, em entrevista à Lusa.
"Os próprios alunos percebem essa importância num mundo mais global, percebem que a língua portuguesa não nos separa, mas nos une ao mundo. Permite que Timor se ligue ao mundo e o mundo se ligue a Timor", disse.
Esta última expressão é, aliás, usada por uma aluna que gravou um depoimento a propósito do Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que se comemora na terça-feira, e que servirá para assinalar o dia naquela escola, fechada devido ao estado de emergência em Timor-Leste por causa da covid-19.
"Noto essa progressão do português e os dados estatísticos demonstram isso", explicou Acácio de Brito.
"Havia a ideia errada de que antes é que se falava muito português em Timor, mas falava-se em sítios muito reduzidos. Há um aumento significativo, dos 5% aquando da independência, hoje estamos a falar de 40% da população que não domina, mas consegue falar e conversar, escrever e estar em português", acrescentou.
Fundada em 2002, a Escola Portuguesa de Díli, que tem já mais de 1.100 alunos, recebe anualmente centenas de candidaturas, muito mais do que as que tem capacidade para acolher.
Os alunos são de um amplo espetro social e económico, que incluem centenas oriundos de famílias mais vulneráveis e sem posses.
Paralelamente ao ensino do pré-escolar até ao 12.º ano, a escola tem vários protocolos com instituições no país para cursos para adultos que têm tido cada vez maior procura.
"Temos cursos de adultos em que estabelecemos protocolos com o Ministério da Educação, com o BNU com formação a todos os funcionários do BNU em Timor-Leste, BNCTL, e outras instituições que vão recorrendo aos nossos serviços", referiu.
"Esses cursos são de facto um sucesso, direi mesmo que permitem aferir da importância que Timor também atribui a uma das línguas oficiais que é o português. Temos tido um nível de procura muito grande", acrescentou o diretor.
Notando que uma análise ao tétum, a outra língua oficial, mostra que o seu desenvolvimento 'bebe' da língua portuguesa, Acácio de Brito defendeu maior aposta no pré-escolar, procurando começar desde cedo o contacto com o português.
"Nós devemos aumentar a nossa capacitação ao nível da educação pré-escolar, não na lotação, mas em termos de horas aqui na escola", defendeu.
A escola vai assinalar o dia da língua portuguesa à distância, com depoimentos de duas alunas, ambas que começaram desde o ensino pré-escolar, e que mostram que a progressão na língua portuguesa é possível.
"A qualidade dos alunos é de facto possível de comparar com qualquer aluno de Maputo, de Lisboa, do Rio de Janeiro", referiu o diretor.
Este é o primeiro ano em que se comemora oficialmente o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) escolheu para a efeméride a data em que há uma década se celebrava o dia da língua portuguesa e da cultura da organização lusófona.
O português é falado por mais de 260 milhões de pessoas nos cinco continentes, ou seja, 3,7% da população mundial.
É língua oficial dos nove países-membros da CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) e Macau, bem como língua de trabalho ou oficial de um conjunto de organizações internacionais como a União Europeia, União Africana ou o Mercosul.