Retoma da atividade regular no São João introduziu rotinas para o futuro

A retoma da atividade regular no Hospital de São João, no Porto, onde a 02 de março foi detetado o primeiro caso covid-19 em Portugal, introduziu rotinas novas e circuitos de triagem que, desejam os responsáveis, perdurarão pós-pandemia.

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Lusa
08/05/2020 06:38 ‧ 08/05/2020 por Lusa

País

Covid-19

Tendo em conta que na base das mudanças no acesso ao hospital está um vírus que em Portugal já provocou a morte de mais de 1.100 pessoas e contabiliza mais de 260 mil óbitos em todo o mundo, o diretor do Centro de Ambulatório do Hospital de São João, Xavier Barreto, não quer usar a expressão "aspeto bom".

Mas, em entrevista à agência Lusa na semana em que grande parte dos hospitais do país regressam à "normalidade possível", admite que a urgência de adaptação a uma realidade extrema e desconhecida despertou reflexões para o futuro.

"Por exemplo, doentes de muito longe que tinham de cá vir para renovar receituário ou avaliar análises, atos clínicos que podem ser feitos à distância, deixaram de vir. Esperamos que seja uma mudança não transitória", referiu.

No Centro de Ambulatório do Hospital de São João a média de consultas diárias de várias especialidades foi de 2.000 por dia em 2019. Durante o período de contingência motivado pela covid-19 esse número reduziu para cerca de 150. Na segunda-feira, já no período de retoma de atividade, 800 doentes acederam à consulta externa e na terça-feira 700. Há quem "falte" por "medo", ideia que o hospital quer "desconstruir".

"O Hospital de Dia [essencialmente para oncológicos e imunodeprimidos, logo pessoas mais suscetíveis à infeção] manteve-se praticamente inalterado, mas em consulta externa cerca de 90% dos doentes foram acompanhados à distância. A ideia é de uma forma progressiva e gradual fazê-los regressar, mas vamos manter uma parte significativa em consulta não presencial", descreveu.

O modelo de teleconsulta é discutido há muitos anos porque, como referiu Xavier Barreto, "sempre existiu a perceção de que existiam muitos doentes que podem ser acompanhados em casa". A pandemia pode, portanto, ter acelerado processos e fintado debates burocráticos, materializando-se num "mundo novo" para as pessoas fruto de modos de estar adaptados ao risco de contágio, mas também num "tempo novo" para os hospitais.

A partir de agora, "estimamos que mais de 1.000 consultas sejam não presenciais e não esperamos que o número evolua muito para além disto. A nossa capacidade foi definida em função de podermos ter os doentes em segurança nas salas de espera", contou.

A "segurança" nas salas de espera de que fala o responsável traduz-se em cadeiras vazias para criar espaçamento entre doentes, ausência de acompanhantes, só sendo permitidos os que acompanham crianças ou doentes em situação muito frágil, com mobilidade reduzida ou dificuldade cognitiva ou de comunicação.

Antes, à entrada, já foi medida a temperatura e oferecida uma máscara de uso obrigatório a todos. Os postos de higienização de mãos são agora - "e serão no futuro" - o centro das atenções das paredes e dos balcões.

A admissão é feita ao balcão com distanciamento perante um acrílico. No chão dos corredores há traços que apelam a distâncias de dois metros.

Dentro dos consultórios há medidas de higiene acrescidas entre períodos de consulta e profissionais munidos de equipamento de proteção individual.

Já no corredor que dá acesso ao Hospital de Dia a triagem inclui questionário de sintomas e é feita por enfermeiros.

Entre as áreas do Ambulatório e do Hospital de Dia há uma câmara de medição de temperatura colada ao teto, um equipamento que custou 10 mil euros ao hospital e foi comprado em pleno surto pandémico. Apita insistentemente se detetar alguém com febre.

Todos os doentes que entram no Hospital de Dia para tratamento de quimioterapia ou radioterapia são testados para a covid-19 porque "têm de ser protegidos de uma forma suplementar". Somam-se testes a todos os doentes que vão para internamento, seja médico ou cirúrgico.

Cenários de salas apinhadas de gente ou corredores onde as pessoas esbarram entre si são, concluiu Xavier Barreto, "garantidamente um regresso a um passado que o hospital não quer", sobretudo enquanto existir o "fantasma" covid-19.

Portugal contabiliza 1.105 mortos associados à covid-19 em 26.715 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.

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