Numa altura em que o país já ultrapassou a barreira dos 27 mil casos e dos mil mortos, ainda assim muito abaixo do registado noutros países do espaço comunitário, o especialista principal do ECDC para resposta e operações de emergência, Sergio Brusin, afirma em entrevista à agência Lusa que "Portugal e outros países na Europa têm um número inferior de casos".
Uma das justificações é "a implementação atempada de medidas, que é algo que pode diminuir bastante a propagação", destaca o perito, que é um dos mais experientes daquele organismo da União Europeia (UE).
"Isto foi algo que aconteceu em Portugal e noutros países da Europa por causa da intervenção bastante precoce", reforça.
A outra justificação, de acordo com Sergio Brusin, "é que poderá ter havido menos introdução [de casos do] exterior, como aconteceu na Grécia, por exemplo".
Os primeiros casos de covid-19 em Portugal (importados de Itália e Espanha) foram registados a 02 de março, quando já outros países europeus tinham dezenas ou centenas de infetados.
E só precisamente um mês depois de ter sido registada a primeira morte na Europa (de um turista chinês em França), é que se verificou o primeiro óbito em Portugal, a 16 março passado, um idoso de 80 anos com outras patologias.
Mas foi ainda antes da primeira morte que o Governo português começou a adotar medidas de contenção do surto, começando logo com a suspensão de eventos com mais de 5.000 pessoas e dos voos para Itália, a 09 de março.
A 12 março, o executivo de António Costa decretou o fecho de todos os estabelecimentos de ensino públicos e privados, medida com efeito a partir de 16 de março, e também nessa altura começaram a ser encerrados outros espaços não essenciais, dada a declaração de estado de emergência em todo o país (em vigor desde as 00:00 de dia 19 de março), que trouxe ainda restrições à circulação.
Depois dessa fase, Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de estado de calamidade devido à pandemia, após três períodos consecutivos em estado de emergência, estando agora em vigor medidas como o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.
Questionado pela Lusa se a Europa, no seu todo, demorou a agir, Sergio Brusin sublinha que "a resposta dada foi sempre razoável e proporcional ao conhecimento disponível", visto que "havia muito pouca informação de início".
"Pensávamos que a situação estava apenas confinada à China, a Wuhan" [...], mas agora começamos a ver que talvez tenhamos tido introdução [de casos] na Europa mais cedo do que pensávamos, como indicam os últimos relatórios de França, e na altura não sabíamos que o vírus já estava a circular na Europa", assinala.
Além disso, de acordo com Sergio Brusin, "teria sido difícil impor este tipo de restrições e medidas" sem a informação que hoje existe.
"É muito fácil dizer que deveríamos ter sido mais rápidos, mas não creio que, em meados de janeiro, a população tivesse aceitado ficar fechada nas suas casas, não circular, parar de trabalhar em fábricas e noutros locais, porque o surto nessa altura parecia confinado a Wuhan e a mais alguns locais na China", adianta o especialista.
A Europa é a região mais afetada do mundo pela pandemia, tendo já ultrapassado as barreiras das 150 mil mortes em milhões de casos.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Sediado na Suécia, o ECDC é um organismo da UE que ajuda os países a criar respostas para surtos de doenças.