"Temos de ter um painel de instrumentos que nos permita tomar decisões, porque sabemos que os diversos indicadores também têm horizontes temporais diferentes", disse Ricardo Mexia no 'webinar' "O SNS e a vigilância epidemiológica após a 1ª vaga", promovido pelos o Conselho Económico e Social (CES)
O médico explicou que, "entre o momento em que uma pessoa é exposta até ao momento em que a notificação ocorre", decorre uma média de 10 dias, defendendo a "maior agilidade possível" para que quando as decisões estão a ser tomadas "sejam o mais alicerçadas possível em dados reais".
"Temos tido uma dificuldade importante no que toca ao sistema de informação, tem sido notório na divulgação da informação, até dos próprios boletins, que é difícil corrigir a informação e apresentá-la de forma robusta", disse Ricardo Mexia.
Perante os "vários avanços e recuos, com diversas correções" que têm sido verificadas, "a questão do sistema de informação é fundamental", disse, sublinhando que são precisas "ferramentas mais robustas, mais eficazes para se poder implementar essa vigilância.
Esta posição foi acompanhada por Alexandre Abrantes, médico e professor da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) que defendeu "um sistema de vigilância e de atuação de saúde pública que consiga identificar a freguesia ou o concelho em que o número de casos ou o número de óbitos ultrapasse um certo patamar" que os especialistas consideram "um alerta amarelo ou um alerta vermelho".
"Isso permite que as intervenções não sejam de larga escala, mas de precisão, naquele sítio, onde está em risco de aparecer um risco epidemiológico", disse Alexandre Abrantes.
Para Ricardo Mexia, nos "próximos tempos", caso não haja tempo para montar uma nova ferramenta, é fundamental que, "pelo menos, a que exista possa ser agilizada e que possa funcionar de forma" a conseguir obter a informação necessária.
Além da vigilância, Ricardo Mexia defendeu também ser fundamental ter recursos humanos na área da saúde pública numa altura em que se está a retomar atividade assistencial.
Houve um reforço da resposta hospitalar, reforço do equipamento, "de alguns recursos humanos, mas a montante disso, ou seja, onde ainda conseguimos intervir e evitar casos, infelizmente o investimento foi praticamente nulo ou pelo menos não muito pouco visível", disse o especialista.
"Portanto, há aqui um voltar à normalidade para a Medicina Geral e Familiar que de alguma maneira limita aquilo que é a nossa capacidade a montante no sentido de deteção precoce dos casos", sublinhou.
Ricardo Mexia deixou ainda "uma palavra de incentivo e alento aos profissionais de saúde", que são "fundamentais" na resposta à pandemia de covid-19, lembrando os mais de 3.100 que estão infetados.
"A isso não será alheio, por exemplo, a dificuldade que houve numa fase inicial para obterem todos os equipamentos de proteção individual adequado para a situação em que trabalhavam", lamentou.
Comparando com dados de outros países, Ricardo Mexia afirmou que "Portugal fica francamente mal na fotografia do ponto de vista da proporção de profissionais infetados face ao total de casos".
Margarida Tavares, do Serviço de Doenças Infecciosas do Centro Hospitalar São João, no Porto, também defendeu a necessidade de adequar e aumentar os recursos humanos, reforçar o trabalho em equipa multidisciplinar e "duplicar circuitos e libertar espaços e profissionais".
Portugal contabiliza 1.175 mortos associados à covid-19 em 28.132 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
O país entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.
Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.