"Aquilo que revelámos no mundo inteiro perante esta pandemia foi desconhecimento, incerteza, insegurança, medo e as respostas que pusemos em cima da mesa, num primeiro momento, apesar de todo o progresso científico, foram as mesmas de há 100 anos, distância social, confinamento obrigatório e higiene das mãos", afirmou o ex-secretário de Estado Adjunto e da Saúde no 'webinar' "O SNS e a vigilância epidemiológica após a 1ª vaga", promovido pelos o Conselho Económico e Social (CES).
Francisco Ramos comentou que, "talvez a única novidade, são as máscaras e mesmo isso com enorme discussão".
Recordou que no início da pandemia, muito discutiam a falta de ventiladores e outros equipamentos. "Até hoje, os ventiladores praticamente não chegaram, felizmente não foram necessários".
Contudo, salientou, "notou-se a falta e foram necessárias as cabeças, os braços, as pernas dos profissionais de saúde pública que felizmente ou infelizmente, não são importáveis nem sequer da China".
Para o ex-governante, esta é uma "medida urgente" face ao risco da segunda ou eventualmente outras vagas da pandemia.
"A questão da saúde pública é a resposta mais eficaz à nossa disposição não é a tecnologia e ainda por cima é custo-efetivo, ou seja, tem um custo muito baixo quando comparadas com outras respostas tecnológicas", defendeu Francisco Ramos.
No seu entender, estes profissionais foram essenciais para os bons resultados que, pelo menos até agora, Portugal tem e a "melhor forma de agradecer" o seu esforço nestes meses é reforçando a capacidade e o papel das unidades funcionais de saúde pública".
Numa altura em que se está a assistir a um processo de desconfinamento gradual, em que há orientações, normas, e se discutem questões como os telemóveis devem ser utilizados para vigilância epidemiológica ou se o futebol deve retomar, "o fim desta situação claramente não está à vista".
Sobre o que se aprendeu com a pandemia, Francisco Ramos disse que "há um conjunto de lições que são consensuais", uma delas é que "o Serviço Nacional de Saúde e a base é a espinha dorsal do sistema de saúde".
"O Serviço Nacional de Saúde teve um bom desempenho, aguentou o impacto e portou-se à altura", sublinhou, considerando que é consensual que tem que se acelerar a digitalização, seja através de teleconsultas, de processos eletrónicos, e "promover a integração de cuidados reclamada há muitos anos".
Para o economista, também é consensual que é preciso "aumentar ou no mínimo não reduzir o financiamento público nem ostracizar os setores privados e social nesta altura em que claramente todos são necessários".
Presente na conferência, o secretário-executivo da UGT Emanuel Boieiro afirmou que "os desafios do SNS requerem atenção especial", sobretudo pelos "vastos problemas" que já tinha e que "foram agravados pela crise pandémica".
A este propósito, referiu que desde o início de março realizaram-se menos 360 mil de consultas de enfermagem nos cuidados primários, menos 320 mil consultas médicas em cuidados primários, menos 161 mil consultas médicas hospitalares, menos 9.000 mil cirurgias programadas e menos 185 mil episódios de urgência.
Para ultrapassar esta situação, Emanuel Boieiro defendeu um plano estratégico nacional para contratação de profissionais de saúde, reforçando, pelo menos, em 30% anualmente, a variação relativamente a 2019 (cerca de 7.000 profissionais), o que corresponderia a mais 10.000 em 2021.
Portugal contabiliza 1.175 mortos associados à covid-19 em 28.132 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
O país entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.
Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.