Regresso à creche é bom para crianças e pais, concordam especialistas

Milhares de creches estão preparadas para reabrir sob condições atípicas, mas especialistas e educadores de infância concordam que o regresso das crianças é importante para elas e para as famílias, apesar dos constrangimentos.

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Lusa
16/05/2020 10:54 ‧ 16/05/2020 por Lusa

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Coronavírus

A reabertura progressiva das creches, a partir de segunda-feira, após dois meses em que estiveram fechadas devido à pandemia de covid-19, tem motivado preocupação entre pais e profissionais e, neste contexto, a Lusa ouviu dois especialistas e um representante dos educadores de infância para perceber como os dois pratos da balança -- os benefícios e os riscos do regresso -- se equilibram.

Em declarações à agência Lusa, o médico pedopsiquiatra Pedro Strecht admite que no contexto atual da pandemia da covid-19 os receios dos pais em relação aos ricos de contágio são naturais, mas considera que os benefícios se sobrepõem.

"Estar fora de casa, criar e manter relação com outros adultos e, sobretudo, com crianças da mesma idade é cada vez mais importante para a maioria dos mais novos e é tarefa prioritária de creches e jardins de infância", sublinha.

Também a psicóloga Inês Almeida Ramos aponta esta necessidade, considerado que, desse ponto de vista, o regresso das crianças às creches e jardins de infância será sobretudo benéfico para aquelas que não têm irmãos e que durante os últimos dois meses têm estado apenas com os pais.

Além das relações sociais, Pedro Strecht realça que as instituições são igualmente importantes para estimular as crianças em áreas como a linguagem, a autonomia, o jogo e o grafismo.

Aqui, o papel dos educadores de infância é particularmente importante, defende Luís Ribeiro, presidente da Associação de Profissionais de Educação de Infância (APEI).

"As oportunidades educativas que são dadas às crianças desde que nascem são extremamente importantes para o desenvolvimento delas e essas oportunidades educativas passam nos primeiros anos de vida fundamentalmente por interações de qualidade, com outras crianças, mas também com os educadores", disse à Lusa.

Entre o representante dos profissionais, o pedopsiquiatra e a psicóloga ouvidos pela Lusa, as vantagens da reabertura das creches são reconhecidas por todos, que concordam que a medida vai permitir devolver também aos pais alguma normalidade.

A este nível, Inês Ramos refere os pais que podem agora regressar aos seus empregos e Pedro Strecht explica que, durante a fase que passou, aqueles que estiveram em regime de teletrabalho enfrentaram dificuldades em conjugar a sua atividade profissional com o cuidado atento dos filhos.

Na pesagem dos prós e contras, o médico pedopsiquiatra e o presidente da APEI não têm dúvidas e defendem o regresso das crianças às creches.

A psicóloga Inês Ramos é, no entanto, mais cautelosa e reconhece que as condições em que as creches vão reabrir podem pôr em xeque o melhor da vivência dos mais novos nas creches, onde as crianças começam a aprender a partilhar e a brincar em conjunto.

Em função do contexto atual de pandemia, o regresso às creches está sujeito a novas regras, como o distanciamento físico entre as crianças, sempre que possível, ou a não partilha de brinquedos.

"É muito complicado, porque estamos a dizer às crianças que tudo aquilo que aprenderam até agora é para esquecer", afirma a psicóloga, admitindo que a nova realidade vai, inevitavelmente, criar estranheza nas crianças, que poderão, por outro lado, absorver também o receio dos pais.

Ainda assim, Inês Ramos acredita que a "capacidade de adaptação excecional" das crianças possa facilitar o regresso e que também os educadores de infância se vão conseguir reinventar.

A confiança nos profissionais é um dos principais apelos do presidente da APEI, que afirma que todos estão a trabalhar para assegurar uma reabertura segura. E acrescenta: "Se os pais achavam que havia uma resposta de qualidade antes, obviamente que se mantém, porque um bom educador de infância é bom em qualquer contexto".

Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.

Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.

O Governo aprovou hoje novas medidas que entram em vigor na segunda-feira, entre as quais a retoma das visitas aos utentes dos lares de idosos, a reabertura das creches, aulas presenciais para os 11.º e 12.º anos e a reabertura de algumas lojas de rua, cafés, restaurantes, museus, monumentos e palácios.

O regresso das cerimónias religiosas comunitárias está previsto para 30 de maio e a abertura das praias para 06 de junho.

 

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