Conhecido o boletim epidemiológico desta quinta-feira, que dá conta de mais 14 mortes e 252 novos infetados, o secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, e a Diretora-Geral da Saúde Graça Freitas atualizam a informação relativa ao surto de Covid-19 em Portugal, numa altura em que o país já se encontra na segunda fase de desconfinamento, com o regresso dos alunos dos 11.º e 12.º anos às aulas presenciais e as crianças às creches e com a reabertura de restaurantes, pastelarias e esplanadas.
O Secretário de Estado começou por dizer que todos os dias o SNS aumenta a capacidade de vigiar casos confirmados e suspeitos de Covid-19 no domicílio, referindo que há atualmente mais 30 profissionais de saúde com acesso à plataforma Trace Covid. São hoje cerca de 73.520 profissionais, abrangendo um universo de utentes superior a 398 mil nesta plataforma desde o início da pandemia.
O governante fez novo balanço da Linha de Saúde 24 que atualmente recebe diariamente cerca de 5.500 chamadas, um número que se tem mantido estável. Já o número de atendimento para cidadãos surdos, recebeu 66 chamadas de cidadãos que de outra forma teriam uma resposta mais difícil.
No que toca à realização de testes, o governante reforçou que tem sido reforçada a capacidade de testagem diária. "O universo de laboratórios que processam amostras é hoje de 80", disse, referindo que desde o dia 1 de março foram realizados mais de 698 mil testes nos 80 laboratórios, entre públicos, privados e Exército. "Foi realmente um caminho notável até aqui", enalteceu.
Lacerda Sales quis ainda deixar uma palavra de agradecimento a toda a comunidade educativa, a todos os professores, educadores de infância e pessoal auxiliar pela "forma exemplar" como se adaptaram e têm cumprido as orientações da DGS.
No entanto, "no dia em que se atinge o número de 5 milhões de infetados no mundo, sabemos também que temos de continuar a reforçar os nossos mecanismos, continua a ser a prevenção a única vacina que dispomos".
Recuperação da capacidade de consultas e cirurgias
Respondendo às questões dos jornalistas, Lacerda Sales disse que o SNS tem vindo a recuperar "gradualmente" a capacidade de consultas e de cirurgias. "Não consigo é dizer, porque será diferente de instituição para instituição e de região para região, qual o número de meses que demorará", afirmou, acrescentando ser óbvio que a programação está feita de forma a recuperar "de forma mais célere possível" a atividade assistencial.
Para que tal aconteça, é preciso que os doentes também tenham confiança para recorrer aos serviços de saúde. Nesse sentido, o secretário de Estado reforçou o apelo que tem feito para que os doentes recorram ao SNS, para que não tenham medo de o fazer, uma vez que a segurança está garantida com "circuitos muito bem definidos e separados".
Época balnear
Sobre a época balnear, Graça Freitas remeteu qualquer norma para o diploma "com regras muito próprias" que vai ser publicado. Mas, respondendo a uma questão sobre respiração boca-a-boca exercida pelos nadadores salvadores, a responsável referiu que vão ser seguidas as recomendações do Conselho Internacional de Reanimação do Instituto de Socorros a Náufragos. "Há de facto normativos muito específicos" que vão ser seguidos.
Casos na Azambuja
Relativamente aos casos de Covid-19 na Azambuja, Graça Freitas salientou a "ótima colaboração" entre as equipas de saúde pública, a Sonae e as outras empresas das região e outras instituições. Até à data dos testes que foram feitos, os dois setores da Sonae que apresentaram casos, 339 testes, 70 dos quais com resultados positivos. Estas 70 pessoas, detalhou, "estão todas clinicamente bem", não estão internadas, são trabalhadores jovens, muitos vivem em alojamento em conjunto. De qualquer forma, "as autoridades de saúde têm feito inquéritos epidemiológicos a famílias da zona.
Quanto a outras empresas da zona da Azambuja, estas têm feito testes mas, até à data, deram negativos. "A situação está a ser acompanhada de perto, no sentido de se isolarem os contactos e de serem tomadas todas as medidas", salientou a diretora-geral de saúde.
Profissionais de saúde infetados
Lacerda Sales disse que o total acumulado de profissionais de saúde infetados com Covid-19 é de 3.317, sendo que 480 são médicos, 1.088 enfermeiros, 935 assistentes operacionais, 159 assistentes técnicos e 105 técnicos superiores de diagnóstico. Os profissionais de saúde recuperados, deu conta, são 1.071. Na soma dos restantes, sobejam-se cerca de 550 que são outros profissionais de saúde dispersos.
Acompanhamento no domicílio
Questionado sobre o acompanhamento dos casos no domicílio, Lacerda Sales destacou o papel da Trace Covid, admitindo que há espaço para melhoria. "Temos feito um grande investimentos nos cuidados no domiciliário e vamos continuar a fazer", podendo as teleconsultas melhorarem a rede de acompanhamento. "Parece-me que é uma resposta que tem funcionado muito bem. De referir que essa aposta é uma aposta que este Governo fez desde o início e que, de acordo com a necessidade de respostas, entende que terá ainda de reforçar e melhorar. Estará nos nossos planos, com certeza, fazer um investimento sério nessa matéria", prometeu.
Dívidas às IPSS
Sobre as dívidas às IPSS, o governante assinalou que o Governo tem "feito um esforço" no sentido de efetuar os pagamentos em atraso, reconhecendo, contudo, que nesta fase difícil, "tivemos que alocar muitos recursos para outras atividades", o que fez com que, naturalmente, atrasar esses pagamentos. "Já fizemos desde o início do ano mais de 156 milhões de pagamentos à rede nacional de cuidados continuados integrados", afirmou, mostrando-se confiante que, com a retoma da atividade mais normal, se continue a fazer "o esforço" para normalizar os pagamentos.
No que toca à testagem dos profissionais de saúde assintomáticos, Lacerda Sales indicou que está a ser revista a abordagem, estando ainda numa "fase de ouvir peritos e médicos sobre a matéria para, eventualmente e se considerarmos útil, fazer uma revisão da norma 13".
Balanço do desconfinamento ?
Lacerda Sales vincou que ainda não estamos em tempo de fazer balanços, uma vez que estamos ainda em tempo de "dar respostas". "Quando se dá respostas não se devem fazer balanços, isso com certeza ficará para o final", deixou claro, deixando, contudo, uma mensagem: "A mensagem entre o fique em casa e o retome a sua atividade, é muito importante esta mensagem de confiança, mas é [igualmente] muito importante que as pessoas percebam que há aqui um critério de salvaguarda e de contenção. É deste ponto de equilíbrio - entre confiança e responsabilidade - que vai resultar no final um balanço favorável"
Vírus 'enfraquece' com o calor?
Graça Freitas disse que a forma como o vírus se comporta em ambientes mais quentes "é uma questão que todo o mundo acompanha, obviamente, com grande ansiedade. Já dissemos que os outros coronavírus, os que são sazonais aparecem sobretudo no outono e inverno e começam a ter uma atividade muito baixa na primavera e no verão. Se este vírus tiver esse comportamento, vamos ter um alívio do número de casos no verão, mas não temos a certeza", afirmou.
Por isso, "vamos ter de continuar a vigiar, não podemos nem por um momento descurar a vigilância epidemiológica, a monitorização dos casos, nem os cidadãos podem descurar as recomendações. Este vírus ainda não se deixou estudar completamente, ainda há coisas que não sabemos e temos que ter a humildade de, não sabendo, continuar a vigiá-lo e a tomar medidas para o pior cenário, e o pior cenário que ele não reaja mal ["mal para ele e bem para a humanidade] às temperaturas elevadas".
Recorde aqui conferência da DGS :