Ministra rejeita Estado Social "saído de armário de naftalina"

Marta Temido notou esta quinta-feira no Parlamento que assistimos hoje a focos da Covid-19 "que nos mostram claramente que as respostas de que precisamos vão para além da infeção à SARS-CoV-2", defendendo um Estado Social forte que seja "um guarda-chuva" para todos e não um "chapéu saído de um armário de naflatlina".

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Melissa Lopes
28/05/2020 18:12 ‧ 28/05/2020 por Melissa Lopes

País

Marta Temido

A ministra da Saúde começou a intervenção de hoje no Parlamento recordando que o primeiro caso confirmado de Covid-19 em Portugal se registou no dia 2 de março (faz para a semana dois meses) e que a incidência máxima da doença aconteceu no final desse mês e que na primeira quinzena de abril o SNS contou o número máximo de internamentos hospitalar e de internamentos em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). 

"Até agora", apontou, "foram 318 mil os cidadãos que foram considerados casos suspeitos de Covid-19" e "mais de 31 mil os casos confirmados". 

"Ao longo deste período, os portugueses e todos aqueles que se encontravam no país, puderam contar com o Serviço Nacional de Saúde", disse, recebendo aplausos da bancada socialista. 

Marta Temido afirmou que não foi só a saúde que se procurou salvaguardar neste período. "Foi também o trabalho, com a proteção da remuneração durante o isolamento profilático do próprio, do filho ou de outro dependente a cargo. Foi também o emprego com o apoios às tesourarias das empresas (...) através do regime de lay-off simplificado", destacou, referindo ainda as estratégias implementadas na educação à distância

"Em várias dimensões, levámos efetivamente à prática o princípio da saúde em todas as políticas públicas", sublinhou, lembrando que "enquanto não surgir um tratamento ou uma vacina, os riscos de uma segunda onda permanecem".

Na sua intervenção, Marta Temido defendeu a importância de um Estado Social e solidário, referindo que esta crise sanitária atingiu os mais vulneráveis. 

"Assistimos hoje a focos de doença que nos mostram claramente que as respostas de que precisamos vão para além da infeção à SARS-CoV-2. São problemas que reclamam e justificam a existência de um Estado Social, de um Estado solidário, baseado em fortes políticas públicas", defendeu, acrescentando: "Sem surpresa, a evidência desta crise sanitária sem precedentes revela que o impacto sanitário, económico e social do novo coronavírus se distribui assimetricamente na população, afetando em especial os mais vulneráveis". 

"Os que se encontram mais expostos são, como sempre, os que vivem e trabalham em condições mais precárias", apontou a responsável pela pasta da Saúde, referindo que "as condições de habitabilidade, a estabilidade laboral e a rede social de suporte são, quase sempre, factores protetores". Marta Temido destacou ainda os mais idosos como os que enfrentam "maior risco de doença grave".

Salientando que ainda é cedo para fazer a avaliação do desempenho dos diferentes modelos de sistema de saúde na resposta à Covid-19, a governante disse existirem caraterísticas do SNS e da responsabilidade constitucional que "seguramente não serão neutras na história que um dia se escreverá".

"Desde logo, porque o SNS tem uma matriz universal reforçada pela nova lei de bases da Saúde, que garante que todos os cidadãos residentes em Portugal, os requerentes de proteção internacional, com ou sem a sua situação legalizada, têm acesso à rede pública de cuidados", realçou, destacando ainda "os atributos de generalidade e de tendencial gratuitidade" do sistema português e a "extraordinária rede de cuidados primários". 

"A capacidade que Portugal tem tido de responder à pandemia não é obra do acaso. Resulta de escolhas políticas, de políticas concretas adotadas nos últimos cinco anos, em particular no SNS, na escola pública, no emprego, na proteção do trabalho e na redistribuição de rendimentos. Imaginemos, por um segundo, um país sem estas escolhas". 

Terminando o discurso, Marta Temido assumiu que "temos muito caminho a fazer", que "temos muito a melhorar", e que "temos muitas respostas para dar". "Mas podermos orgulhar-nos do caminho que nos trouxe até aqui e, sobretudo, não temos qualquer dúvida sobre o caminho que temos de continuar a perseguir", disse, defendendo que as preocupações são os cuidados de saúde primários, a resposta em tempos de espera adequados e com a humanização adequada". Em suma, "um Estado Social que não é um chapéu saído de um armário de naftalina", mas sim "o guarda-chuva social que nos protege a todos". 

 

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