O jornal Contacto revela, esta quarta-feira, que há várias famílias de portugueses a passar fome no Luxemburgo, algumas das quais com crianças, devido à crise económica gerada pela pandemia da Covid-19.
À publicação, Marco Hoffmann, da Caritas Luxemburgo, revelou que 20% dos pedidos de ajuda que a linha Corona Helpline recebe foram feitos por portugueses e José Trindade, fundador e presidente do Centro de Apoio Social e Associativo (C.A.S.A.) do Luxemburgo cimenta estes dados.
"Nunca vi tantos portugueses a passar fome e em situações tão difíceis aqui no Luxemburgo como nos últimos meses, devido à pandemia", disse o homem que emigrou para o país em 1970.
"Nós ajudamos com todas as nossas possibilidades. Ao todo, entregámos 300 cheques alimentares durante o confinamento e atualmente acompanhamos 91 portugueses em sérias dificuldades. Temos famílias com crianças pequenas, jovens e até pessoas na casa dos 50 anos que sobreviviam com trabalhos precários que agora perderam-nos e ficaram sem conseguir subsistir neste país que tem um nível de vida muito elevado", adiantou.
Contudo, a crise económica da pandemia também está a afetar imigrantes de longa duração, que nunca tinham necessitado de apoio. "Chegam-nos aqui famílias que sempre levaram uma vida digna tinham os seus empregos e mesmo com baixos rendimentos, conseguiam pagar a renda da casa, a alimentação e as suas contas. Agora a pandemia levou-lhes os trabalhos e já não conseguem viver dignamente e isso impressiona de modo muito triste e preocupante", salientou José Trindade.
A Caritas Luxemburgo revelou recentemente os números do apoio que deu durante o confinamento através da sua linha de apoio Corona Helpline, ativa entre 7 de abril e 31 de agosto.
"67% das pessoas que recorreram à Corona Helpline tinham antes uma vida decente no país, mas encontram-se agora numa situação financeira muito complicada. Até agora, estas pessoas e famílias nunca recorreram às ajudas sociais, ou pelo menos, não tiveram necessidade de o fazer no último ano antes da crise da Covid-19 chegar", alertou Marco Hoffmann, acrescentando que entre estes "novos pobres" encontram-se portugueses.
Do total de 445 pedidos de apoio a esta entidade, 19,4% foram feitos por imigrantes de nacionalidade portuguesa, como refere o relatório do balanço desta ação. A seguir aos luxemburgueses (37,04%), os portugueses foram a nacionalidade mais apoiada. No total, a Caritas Luxemburgo auxiliou 806 pessoas, das quais 308 crianças dando ajudas financeiras pontuais, recurso à mercearia social, informação ou orientando-as para outros organizações.