No dia em que o Presidente da República está a ouvir, no Palácio de Belém, antigos ministros da Saúde, o primeiro a ser recebido foi Luís Filipe Pereira. À saída do encontro, e questionado pelos jornalistas sobre se o combate à segunda vaga do novo coronavírus foi mal preparado, concordou, dizendo que "tudo aponta para isso".
"De facto, não se vê que tenha havido um plano global, completo. Hoje, acho absolutamente essencial tomar essas medidas, ter um plano para a frente, hoje precisamos de uma atuação ainda mais exigente do que aquela que tivemos que adotar em março/abril", referiu o antigo ministro (PSD), alertando para a "falta de meios" no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e lembrando que há recursos "no setor social e privado que podem e devem ser envolvidos".
Sobre se a pandemia ainda pode ser contida, não hesitou em dizer que "tem que ser contida", vincando que a questão é não se saber quanto tempo demorará. "Hoje a situação é bastante mais grave do que a que enfrentamos no início. As pessoas sabem entender isso desde que a mensagem seja correta", disse, referindo que numa pandemia, perder uma semana "pode significar dezenas e dezenas" de mortes.
Por isso defendeu uma "estratégia global", para lutar contra a Covid-19, mas também que tenha em conta os doentes não relacionados com a pandemia. É que, justificou, o sucesso da abordagem para a Covid-19 de março para que o SNS "não colapsasse" não se pode repetir, quando esse sucesso dependeu de um confinamento total e de uma concentração dos serviços de saúde na luta contra a pandemia. E acrescentou que desde essa altura não se resolveram os problemas dos doentes não-Covid, sobretudo os doentes crónicos.
"Não podemos confinar totalmente e não podemos continuar a não dar resposta aos doentes não covid-19" Nesse sentido, prosseguiu, essa estratégia que propõe, além de contar com os meios do setor social e privado, pode passar por confinamentos seletivos, sendo necessário perceber as causas dos contágios e cruzar com informações geográficas.
É certo, disse o antigo ministro, que a população pode resistir a esses confinamentos, mas o Governo tem obrigação de dar uma informação que chegue às pessoas, o que nem sempre tem acontecido, disse. E acrescentou que da estratégia que defendeu perante o Presidente da República faz parte também a "testagem massificada", identificar cadeias de transmissão e isolar. E, avisou, agir de forma muito rápida.
"Se damos exemplos que são contraditórios, ou seja, se por um lado impomos que nos restaurantes há um limite de cinco pessoas, mas por outro permitimos que existam grandes espetáculos e comemorações, obviamente que há uma mensagem contraditória", reforçou o antigo ministro da Saúde, referindo que este "é um dos aspetos que tem que ser corrigido".
[Notícia atualizada às 17h12]