Os hospitais privados de Lisboa e Vale do Tejo não estarão disponíveis, para já, para receber doentes com Covid-19. A informação foi avançada pelo presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), Luís Pisco, após uma reunião com o presidente da Associação Portuguesa da Hospitalização Privada (APHP) na quarta-feira, como avança a imprensa nacional.
Ao Jornal de Notícias, Luís Pisco assegurou que "todos referiram que não tinham possibilidade de aceitar doentes com Covid-19". O objetivo da ARS de Lisboa e Vale do Tejo passava pela possibilidade de contratar camas de enfermaria para aliviar a pressão dos hospitais públicos da região.
Ainda de acordo com o mesmo jornal, os privados terão alegado a necessidade de responderem à atividade programada não-covid. Terão, porém, mostrado abertura para ponderar a decisão perante um agravamento da segunda vaga do novo coronavírus.
O Notícias ao Minuto contactou, esta quinta-feira, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, que preferiu não tecer comentários adicionais sobre o tema. O Notícias ao Minuto tentou igualmente obter uma reação por parte da Associação Portuguesa da Hospitalização Privada e aguarda uma resposta.
Entretanto, numa resposta enviada à Lusa, a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada diz que "em momento algum os hospitais privados recusaram colaboração" e que ficou decidido que a ARSLVT os informaria do plano que teria, para analisarem "em que termos os hospitais privados deveriam intervir".
"A declaração do presidente da ARS Lisboa e Vale do Tejo, num posicionamento pouco institucional e nada adequado ao momento sério que o SNS atravessa contrasta, aliás, com o que tem acontecido com outros dirigentes", critica a APHP.
A associação diz que a disponibilidade dos hospitais privados se mantém e insiste que, "tal como os portugueses, [os hospitais privados] desconhecem a existência de qualquer plano de atuação" e que "sem esse instrumento não é possível tomar decisões".
"Os hospitais privados estão a desenvolver a sua atividade com normalidade e, se for necessário afetar recursos de outra forma, por conveniência e necessidade do sistema de saúde, terá então de se reorganizar as estruturas de acordo com o plano que estiver definido", refere a nota.
Criticando a posição assumida publicamente pelo presidente da ARSLVT, a APHP lembra que, no caso da ARS Norte, por exemplo, "houve solicitação da capacidade instalada e tem havido diálogo com os prestadores no sentido de encontrar soluções para problemas concretos. Refira-se também que a Entidade Reguladora da Saúde inquiriu os hospitais privados sobre a capacidade instalada e essa informação foi atempadamente remetida", acrescenta.
Os privados recordam ainda que, no âmbito da pandemia de covid-19, "cederam ventiladores, cumpriram as diretivas da DGS em relação às cirurgias não urgentes e às consultas planeadas, remeteram informação sobre capacidade instalada, reservaram camas a pedido de hospitais do SNS".
Dizem ainda que têm estado a recuperar a atividade que não pôde ser realizada no período do confinamento e que, "tendo mantido a oferta, estão a permitir a redução da carga sobre o SNS, ao mesmo tempo que contribuem de forma ativa para a realização de centenas de testes COVID e para a atividade cirúrgica de doentes do SNS".
Sobre a posição assumida pelo presidente da ARSLVT, a associação afirma: "Esta descoordenação detetada torna evidente que deve ser o Ministério da Saúde a centralizar os contactos, sem ruídos localizados que provoquem os mal entendidos como o de ontem, a estabelecer o plano de atuação para a covid e a resposta aos doentes não-covid e a definir em que termos pretende que os hospitais privados deem a sua colaboração".
"Disponibilidade existe, mas a sua efetivação depende de uma proposta concreta por parte do Ministério da Saúde", afirmam.
Luz Saúde e CUF contradizem a ARS
Contactado pelo Notícias ao Minuto, o Grupo Luz Saúde defende que, em relação à disponibilidade para receber doentes Covid, "não foi contactado diretamente, a não ser há cerca de duas semanas pela ARS Norte, que questionou o Hospital da Luz Arrábida genericamente sobre a sua capacidade de internamento COVID e não COVID".
Esclarece ainda o grupo de saúde que, na quarta-feira, "houve uma conferência telefónica da ARSLVT, mas com a direção da Associação Portuguesa da Hospitalização Privada".
Em relação à capacidade de camas e recursos, "a resposta depende das necessidades concretas que o Estado identificar e que variam naturalmente de região para região", indica a Luz Saúde, vincando ainda que solicitou uma reunião com o secretário de Estado da Saúde, que se realizará nos próximos dias, onde se irá avaliar "as necessidades concretas do SNS no atual contexto de evolução da pandemia e como poderá o Grupo Luz Saúde integrar o plano de contingência do Ministério da Saúde em cada momento".
"A informação de que os grupos privados, nomeadamente a Luz Saúde, não demonstraram interesse em receber doentes covid do SNS não corresponde à verdade", remata.
Já o grupo CUF defende, em comunicado a que o Notícias ao Minuto teve acesso, que "tem estado desde o primeiro momento ao serviço do país, apoiando o SNS no combate à pandemia, quer com o tratamento de doentes com COVID-19, quer com o reforço na resposta aos cuidados de saúde gerais na população".
Na sequência dos contactos entretanto estabelecidos com as Autoridades Regionais de Saúde, "a CUF reafirma a disponibilidade para continuar a apoiar o SNS nas duas dimensões, doentes COVID e não-COVID, de forma complementar e supletiva, de acordo com a sua capacidade, a qual está a ser avaliada, mantendo-se a preocupação de continuar a garantir, com total segurança, a resposta aos doentes não-COVID, o que é absolutamente fundamental para a população".
Atualmente, dá ainda conta a unidade de saúde, os Hospitais CUF, em Lisboa e Porto, têm 13 doentes internados com COVID-19. Desde o início da pandemia, a CUF já recebeu no internamento 173 doentes infetados.
Recorde-se que o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), Óscar Gaspar, reiterou na passada terça-feira a disponibilidade dos hospitais privados em dar resposta à pandemia da Covid-19 e a outras doenças, realçando a "relação inexistente" com o Governo.
Óscar Gaspar falou aos jornalistas, no Palácio Belém, em Lisboa, após uma audiência com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
[Notícia atualizada às 13h53]