Cerca de 15 minutos depois do arranque da 27.ª sessão do julgamento, no Tribunal Central Criminal de Lisboa, o coletivo de juízes interrompeu de forma abrupta a sessão, com a presidente do coletivo, Margarida Alves, a regressar pouco depois para explicar que a audiência teria de ser suspensa, devido à informação recebida de um teste positivo ao vírus SARS-CoV-2 do familiar de um dos juízes.
"Vamos interromper o julgamento para os próximos 14 dias. Não sei quando poderemos retomar, serão depois notificados", declarou a presidente do coletivo de juízes, que tinha duas a três sessões semanais agendadas até 10 de dezembro.
Até esse momento, a sessão tinha ficado marcada pela apresentação de um requerimento da defesa do arguido Aníbal Pinto, ainda antes de a testemunha Pedro Henriques, advogado e antigo colaborador de Nélio Lucas no fundo de investimento Doyen, começar a prestar depoimento, no sentido de impugnar a inquirição.
Em causa, segundo o advogado João Pereira dos Santos, estava uma alegada conversa de Pedro Henriques com o representante legal de Aníbal Pinto num outro processo, João Azevedo, a quem teria sido transmitido "de forma clara e agressiva que acontecesse a Aníbal Pinto o dobro do que lhe está a acontecer". O coletivo de juízes decidiu indeferir o requerimento e abriu caminho à inquirição da testemunha pelo Ministério Público.
De seguida, Pedro Henriques começou por explicar a sua ligação aos factos do processo, que culminaram na alegada tentativa de extorsão à Doyen pelos arguidos Rui Pinto e Aníbal Pinto.
O antigo colaborador do fundo de investimento relembrou que em 2015 "começou a surgir no Football Leaks documentação confidencial da Doyen" e que Nélio Lucas estava a receber e-mails de Artem Lobuzov - que mais tarde se veio a saber ser Rui Pinto --, nos quais seria pedida "uma quantia entre 500 mil e um milhão de euros" para o fim das publicações na Internet.
"Nélio Lucas disse-me 'Podes não acreditar, mas [Artem Lobuzov] disse que isto tem de ser tratado entre advogados e indicou Aníbal Pinto'. Mais tarde pude perceber os motivos", afirmou Pedro Henriques, aludindo à conversa no encontro com Nélio Lucas e Aníbal Pinto na área de serviço da autoestrada A5, em Oeiras, em que o arguido disse que "tinha sido advogado de uma pessoa que tinha retirado dinheiro das Ilhas Caimão": "Havia esta ligação", observou.
Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de agosto, "devido à sua colaboração" com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu "sentido crítico", mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
[Notícia atualizada às 12h35]