Luís Vieira, de 26 anos, é um dos poucos casos de reinfeção do novo coronavírus conhecidos em Portugal e no mundo. Depois de, em março, ter testado positivo para o SARS-CoV-2,na semana passada o jovem voltou a ter sintomas da doença e a suspeita confirmou-se: está novamente com Covid-19.
No final de março, Luís teve o primeiro contacto com a doença. Depois de uma corrida que o fez sentir falta de ar, o jovem de 26 anos entrou em contacto com as autoridades de saúde, que recomendaram a realização do teste à Covid-19.
"Fiquei isolado durante duas semanas", recorda em declarações ao Notícias ao Minuto. "Na altura, tinha indicação para repetir o teste quando não tivesse sintomas e tinha de ter dois resultados negativos", lembra. No dia 15 de abril, Luís foi considerado curado.
O jovem português ressalva o bom acompanhamento que foi prestado pelas autoridades sanitárias durante a primeira vaga. "Todos os dias me ligavam para saber se tinha melhorias ou não e foi mesmo um acompanhamento muito bom".
O 'alarme' voltou a soar no início da semana passada, quando Luís se sentiu febril. "Isolei-me de imediato no quarto. A febre abrandou com paracetamol, mas isso não invalidou que fosse fazer o teste para despistar".
Nesta segunda infeção, Luís assume que os sintomas se intensificaram. À febre juntou-se a obstrução nasal, a perda de olfato e de paladar, que começaram a melhorar ao sexto dia após o diagnóstico.
O caso tem sido acompanhado de perto pelo médico de família, que entra em contacto com Luís à medida que este vai fazendo o registo dos sintomas numa plataforma para o efeito. De salientar que as pessoas que entram em contacto com o SNS24 por suspeita de infeção ou por infeção confirmada recebem um e-mail, com acesso a uma plataforma, para registo diário dos sintomas.
Apesar de estarmos perante uma reinfeção, Luís Vieira não tem, para já, indicação de que o seu caso esteja a ser estudado pelas entidades responsáveis.
Perante o cenário, Luís não esconde o receio de voltar a contrair o vírus: "Um dos meus medos é ter uma terceira infeção. Estou com bastante receio que aconteça outra vez".
O jovem, que não tem nenhum problema de saúde diagnosticado, confessa que, quando foi infetado pela primeira vez, sentiu "muito medo. Não sabia com o que estava a lidar". O medo do desconhecido acabou por desvanecer à medida que o tempo foi passando e os sintomas foram abrandando. Desta segunda vez, "não senti tanto receio no início. Já sabia do que se tratava. Só fiquei preocupado depois porque não estava a melhorar".
Em maio, Portugal começou a fazer colheita de plasma de sangue de doentes recuperados da Covid-19 e esta recolha pode ser utilizada em ensaios clínicos ou em doentes infetados que estejam em estado grave. Perante esta possibilidade, Luís não quis perder a oportunidade de ajudar quem precisasse e, em junho, sensivelmente dois meses depois de ter tido a primeira infeção, fez a doação de plasma. O resultado chegou seis meses depois e indicava que Luís, na altura, já não tinha anti-corpos contra a SARS-CoV-2.
Casos de reinfeção em Portugal e no mundo
Na semana passada, chegou a público o primeiro caso confirmado de Covid-19 em Portugal. Trata-se de uma mulher de 48 anos, residente na Grande Lisboa.
Apresentando sintomas da doença, a primeira infeção foi confirmada no dia 3 de julho. Duas semanas depois, a portuguesa fez testes que não detetaram a presença do vírus no organismo e foi considerada curada.
Já em final de outubro, voltou a apresentar sintomas e um novo teste indicou que estava novamente infetada com o SARS-CoV-2. De acordo com o Público, que avançou com a informação, o caso está a ser estudado pelo médico Germano de Sousa, especializado em Patologia Clínica e fundador de uma rede de laboratórios com o seu nome.
No passado domingo, o presidente da Câmara de Ovar, Salvador Malheiro, revelou também, nas redes sociais, que foram diagnosticados dois casos de reinfeção naquele município.
Recorde-se que, em agosto, um homem de 33 anos natural de Hong Kong foi considerado o primeiro caso oficial de reinfeção pelo novo coronavírus no mundo, segundo investigadores da Universidade de Hong Kong.
O doente em questão teve alta após ter sido declarado curado da doença Covid-19 em abril passado, mas no início de agosto voltou a testar novamente positivo depois de ter regressado de uma viagem a Espanha.
Embora raros, os casos de reinfeção têm sido descritos pela comunidade científica internacional. No passado dia 13 de outubro, tinha sido confirmado o quinto caso de reinfeção no mundo.
O Notícias ao Minuto contactou o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que esclareceu que "não está a desenvolver nenhum estudo específico relacionado com a reinfeção pelo SARS-CoV-2".
Tem, isso sim, colaborado, através do seu Departamento de Doenças Infeciosas, "com várias entidades hospitalares e de saúde pública no sentido de esclarecer situações que possam configurar reinfeções ou reativações, traduzidas pelo aparecimento de dois diagnósticos para COVID-19 positivos intercalados com resultados negativos".
Com efeito, o INSA tem dado especial atenção "aos casos em que este cenário é suportado por dados clínicos e epidemiológicos, especialmente nos casos de potencial reinfeção. A confirmação laboratorial destes casos passa pela análise do genoma do SARS-CoV-2 das amostras positivas. No entanto, até à presente data, não foi possível ainda confirmar inequivocamente qualquer caso de reinfeção em Portugal".
[Notícia atualizada às 07h44]
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