"Vamos ser muito sinceros: os Estados, de uma maneira geral, falharam"
Durão Barroso esteve, esta quarta-feira, na 'Grande Entrevista' onde considerou que a Covid-19 está "a acelerar tendências que já vinham de antes da pandemia", sendo que "já se pode falar de uma certa 'desglobalização'".
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País Durão Barroso
Durão Barroso, ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia, foi o convidado desta quarta-feira do programa Grande Entrevista, da RTP3. A partir do próximo mês de janeiro, vai ser presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI) e, questionado sobre o que a pandemia está a mudar (e vai mudar) nas nossas vidas, apontou o "impacto económico e social" da Covid-19.
"O impacto económico depende, em larga medida, da duração da pandemia. Por isso é que a questão das vacinas é tão importante", destacou, acrescentando que "não sabemos ainda quando pode haver a recuperação".
Contudo, para Durão Barroso, uma coisa "é certa": "Terá desde logo grande impacto económico e social, razão pela qual é necessária uma especial atenção, não apenas para controlar do ponto de vista de saúde pública, mas também para conseguir responder à urgência económica e social".
A Covid-19 está também "a acelerar tendências que já vinham de antes da pandemia", sendo que "já se pode falar de uma certa 'desglobalização'", defendeu. "Isto é, menor crescimento do ritmo a que vinha a verificar-se a liberalização do comércio internacional e também das trocas de investimento transfronteiriças".
Por outro lado, o ex-primeiro-ministro destacou que o comércio digital "está a ter um crescimento exponencial". Durão Barroso sublinhou que "as pessoas que agora se estão a habituar ao comércio digital, a fazer compras online, dificilmente voltarão exatamente aos mesmos padrões", apontando ainda a "digitalização das trocas financeiras" que, "provavelmente, terá consequências" até no "desenvolvimento de algumas criptomoedas".
"Numa situação destas, a tendência é para as pessoas se fecharem. É uma tendência quase que biológica: quando há uma ameaça, um desafio, fecha-se. Há esta situação vamos ver qual será o novo normal", reiterou.
Covid-19? "Estados, de uma maneira geral, falharam"
Já sobre se a pandemia da Covid-19 poderá aumentar (ainda mais) um fosso entre os mais ricos e os mais pobres, Durão Barroso considerou "que sim". "Se é verdade que esta pandemia está a atingir todo o mundo e todos os países, a verdade é que está a atingi-los de maneira diferente. Há uns mais vulneráveis e também é verdade que, dentro dos países, há pessoas que estão em pior situação".
"É por isso que digo que é necessário reforçar os instrumentos sociais. É necessário um esforço sem precedentes", advogou, mostrando alguma "prudência": "Nem tudo tem de ser feito através do Estado". "Vamos ser muito sinceros: os Estados, de uma maneira geral, falharam. Incluindo alguns dos países mais ricos do mundo", destacando a falta, por exemplo, de máscaras, camas ou ventiladores.
Dando como certo que "vamos assistir a novas pandemias", Durão Barroso afirmou esperar "que os Estados se preparem melhor, que aceitem que haja uma maior partilha de informações e respostas, e que haja uma resposta social que pode ser feita pelo Estado e pelo setor Privado".
"GAVI consegue baixar imenso o preço das vacinas"
O futuro presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI) considerou ainda, na entrevista, que esta "consegue baixar imenso o preço das vacinas" e "apoiar a distribuição". "Temos de mostrar que numa altura como a atual, em que há uma grande polarização geopolítica, que é possível, independentemente das questões políticas ou ideológicas, os governos de países tão diferenciados trabalharem por bens públicos globais".
A intenção da GAVI é, agora, "garantir que há uma distribuição equitativa" das vacinas e que "não são só aqueles que têm mais dinheiro" que ficam com estas. Quanto a uma possível 'guerra por vacinas'. Durão Barroso afirmou que tal "pode haver" se não se conseguir "cooperação".
De qualquer modo, está "convencido que vamos conseguir evitar isso, até porque o objetivo da GAVI é conseguir 2 mil milhões de doses até ao fim de 2021" e "isso já permitirá uma imunização" que "permitirá, se tudo correr bem, o controlo desta fase mais aguda desta pandemia para o final do ano que vem".
[Última atualização às 23h46]
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