Em declarações à Lusa, o comandante dos Sapadores do Porto, Carlos Marques, indicou que o alerta foi dado às 03:30, tendo sido mobilizados para o local 12 homens e uma autoescada.
"O edifício já está devoluto, inclusivamente já tinha alguns vãos selados, o que ardeu foi no interior: alguns resíduos que lá tinha, nada de muito especial. Nós fizemos a extinção, não houve feridos a registar", revelou, acrescentando que ardeu também um pouco da cobertura do edifício.
Apesar de o combate às chamas ter sido "relativamente fácil", foi necessário o recurso a meios elevatórios, nomeadamente à autoescada, mas a integridade do edifício não foi, contudo, comprometida.
No local estiveram ainda presentes o piquete da Proteção Civil e a PSP, a quem cabe inicialmente investigar as causas do incêndio, tendo sido acionada Divisão Investigação Criminal (DIC) para recolher elementos.
De acordo com a PSP, à partida, não há suspeitas de crime.
Na rede social Facebook, o Movimento por um jardim ferroviário na Boavista lamentou hoje o sucedido, considerando suspeito o incêndio.
"Hoje pelas 03:00, em pleno outono e numa madrugada chuvosa, deflagrou um incêndio na antiga estação. (...) Visto da rua, parece que só o telhado ardeu, bem como o relógio que ornava a fachada, mantendo-se a estrutura em pedra. É triste, lamentável e muito suspeito que isto tenha acontecido agora", lê-se numa publicação.
Em junho, um grupo de cidadãos pediu à Câmara do Porto a classificação municipal da antiga estação ferroviária da Boavista, onde o Corte Inglés tem intenção de construir, depois de a Direção-Geral do Património Cultural ter arquivado o pedido nacional.
À data, em declarações à Lusa, Hugo Silveira Pereira, investigador do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, explicou que o grupo tomou esta decisão depois de analisar o despacho de arquivamento da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e que abre a porta à classificação daquele património como de interesse municipal.
Embora respeitando a decisão, o grupo, composto por 60 personalidades ligadas à academia e ao património, não pode concordar com ela, por esta se tratar "da primeira estação totalmente operacional da cidade do Porto", "da primeira aplicação da tecnologia ferroviária de bitola estreita" e "da primeira iniciativa ferroviária privada que foi bem-sucedida, apesar de não contar com nenhum apoio do Estado português".
Na quinta-feira, em comunicado, o Movimento por um jardim ferroviário na Boavista afirmou que, apesar do Pedido de Informação Prévia (PIP) para o projeto do Corte Inglês ter sido aprovado pela autarquia em outubro, continua a correr nos serviços municipais um pedido de classificação municipal da antiga estação ferroviária, não havendo resposta até à data.
O movimento considerou ainda "contraditória" a aprovação do PIP da cadeia espanhola sem que tenha havido uma resposta ao pedido de reversão do negócio que a própria autarquia enviou ao ministério responsável.
A autarquia aprovou, por unanimidade, em 25 de novembro de 2019, uma recomendação ao Governo para reverter o contrato promessa de compra e venda do terreno na Boavista, onde o El Corte Inglés tem intenção de construir.
Para os terrenos da antiga estação ferroviária da Boavista estão previstas, para além de um grande armazém comercial, a instalação de um hotel e de um edifício de habitação comércio e serviços.