A embaixadora da Ucrânia, Inna Ohnivets, deu ontem uma entrevista à RTP depois de se reunir com o ministro da Administração Interna - onde foi informada sobre o pagamento de uma indemnização à família de Ihor Homeniuk e sobre as diligências em curso -, e acabou por abandoná-la ao ser questionada sobre se tinha reencaminhado à família de Ihor a mensagem de condolências transmitida pelo Governo em abril.
Recorde-se que, na sexta-feira, depois do encontro entre os dois responsáveis, o Ministério da Administração Interna (MAI) divulgou uma nota onde anunciou que foi entregue à diplomata uma carta dirigida à viúva de Ihor Homeniuk, sendo que esta não era a primeira mensagem de condolências enviada à família.
"Na sequência do pedido de condolências transmitido no início de abril à família de Ihor Homeniuk, através da embaixada da Ucrânia em Lisboa, Eduardo Cabrita entregou hoje [sexta-feira] uma carta destinada à viúva, senhora Oksana Homeniuk, dando-lhe conhecimento da decisão do Governo assumir, em nome do Estado português, a responsabilidade pelo pagamento de uma indemnização", pode ler-se na nota do MAI.
Inna Ohnivets confirmou, à RTP, que se encontrou com o ministro em abril e que lhe foi transmitida a mensagem de condolências. "Tivemos já um encontro em abril, ele [Eduardo Cabrita] transmitiu as condolências".
Depois, questionada sobre se transmitiu essa mensagem à família, a diplomata explica que sim, "através do cônsul" (Volodymyr Kamarchuk). A jornalista questiona, de seguida, se o cônsul transmitiu que as condolências vinham da parte do Governo. "Transmitiu que as condolências vinham da nossa embaixada, e sobre o Governo português a senhora pode comunicar com o Governo português", respondeu a embaixadora.
Questionada de novo, Inna Ohnivets abandona a entrevista. "Peço desculpa, terminámos a nossa entrevista", avisa, levantando-se da cadeira.
Na mesma altura, a RTP revela ainda que o cônsul, Volodymyr Kamarchuk, já foi substituído e já saiu do país.
Três inspetores do SEF acusados, 12 com processos disciplinares
A morte de Ihor Homeniuk, recorde-se, levou à acusação de três inspetores do SEF por homicídio qualificado. Os acusados encontram-se em prisão domiciliária, com julgamento previsto para começar a 20 de janeiro de 2021.
Segundo a acusação, Homeniuk foi isolado dos restantes passageiros estrangeiros, na sala dos médicos do mundo, onde permaneceu até ao dia seguinte, tendo sido "atado nas pernas e braços". Os inspetores algemaram-lhe as mãos atrás das costas, amarraram-lhe os cotovelos com ligaduras e desferiram-lhe um número indeterminado de socos e pontapés no corpo.
"Com o ofendido prostrado no chão, os arguidos, usando também um bastão extensível, continuaram a desferir pontapés, atingindo o ofendido no tronco. Ao abandonarem o local os arguidos deixaram a vítima prostrada, algemada e com os pés atados por ligaduras", refere o Ministério Público.
As agressões cometidas pelos inspetores do SEF provocaram a Ihor Homeniuk "diversas lesões traumáticas que foram causa direta" da sua morte.
O caso de Homeniuk levou à demissão do diretor e do subdiretor de Fronteiras do aeroporto de Lisboa e à saída, na dia 9 de dezembro e a seu pedido, da diretora do SEF, Cristina Gatões, e também à instauração de 12 processos disciplinares a inspetores do SEF.
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