As palavras de Marie-Noelle Koyara foram ouvidas pelo ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, e pelo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, almirante António Silva Ribeiro, durante uma visita ao destacamento militar português presente na RCA.
Portugal tem atualmente na RCA 243 militares, dos quais 188 integram a Missão Multidimensional das Nações Unidas para a Estabilização (MINUSCA) e 55 participam na missão de treino da União Europeia (EUTM), liderada por Portugal, pelo brigadeiro general Neves de Abreu, até setembro de 2021.
"Em nome do Governo e do povo centro-africano, quero agradecer a Portugal. Os portugueses estão aqui a trabalhar bem, com coração, mostrando amor. Quando se percorre este país, o nosso povo agradece aos portugueses, porque eles sabem que os portugueses trabalham em defesa da nossa segurança e têm coração", declarou em português a ministra da Defesa da RCA, que viveu alguns anos em Cabo Verde, após uma breve reunião com João Gomes Cravinho e com as cúpulas militares nacionais nas missões da MINUSCA e da EUTM.
Antes, em declarações aos jornalistas, o ministro da Defesa Nacional salientou que a missão das Forças Armadas na RCA é uma das maiores em termos de envolvimento externo, mas é também "uma das mais complexas".
"Mas as Forças Armadas têm demonstrado enorme brio. Seja do lado das autoridades da República Centro Africana, seja do lado do representante especial do secretário-geral das Nações Unidas [António Guterres], ou, ainda, da parte da embaixadora da União Europeia, todos têm demonstrado um grande agradecimento em relação à forma notável como as Forças Armadas portuguesas têm correspondido em relação a desafios complexos", afirmou João Gomes Cravinho.
Interrogado sobre se não teme um agravamento da instabilidade logo após as eleições presidenciais e legislativas na República Centro Africana, previstas para o próximo dia 27, João Gomes Cravinho assumiu que "momentos eleitorais são sempre momentos de tensão e de dificuldades no plano político".
"O que é fundamental é que essas tensões são saiam e, naturalmente, este é um momento de alguma vulnerabilidade. Sabemos que a República Centro Africana é um país que vem de um processo de grande fragilização e que neste último par de anos tem vindo a recuperar a sua capacidade em termos de extensão da autoridade do Estado no território", disse.
De acordo com o ministro da Defesa, apesar de esta época pré-eleitoral na RCA ser "um momento de grande vulnerabilidade" nos planos político e da segurança, "constitui, igualmente, um momento de grande determinação".
"No presente, estamos a ver a missão das Nações Unidas a procurar assegurar que em todo o território haja segurança e estabilidade para que os centro-africanos exercem o seu direito de voto. Por outro lado, vemos também a força de reação rápida portuguesa em ação, tendo em vista que se atinja esse objetivo", apontou.
"O trabalho aqui feito pelas Forças Armadas, particularmente pela força de reação rápida, é único e excecional, dando um contributo da maior importância para este processo de transição para um país estável e seguro", acrescentou João Gomes Cravinho.
A MINUSCA tem como principal objetivo a proteção da população civil, em apoio ao processo de paz neste país, enquanto a EUTM está dedicada à formação e treino das forças centro-africanas.
A RCA, que terá eleições presidenciais e legislativas no próximo dia 27, vive desde dezembro de 2012 em clima de guerra civil, que foi desencadeada pela revolta armada de grupos de maioria muçulmana (Séléka) e pela reação, também armada, de milícias maioritariamente cristãs (Anti-Balaka).
Antes de partir de Bangui, durante um lanche de Natal com várias dezenas de militares portugueses das missões da MINUSCA e da EUTM, o ministro da Defesa ofereceu simbolicamente relógios a três deles, mas com a garantia de que todos vão receber. Relógios que têm a inscrição "Portugal sempre".
"Penso que nem era preciso ter essa inscrição nos relógios. Todos vós sentem Portugal", comentou o membro do Governo, antes de partir para uma também breve visita aos militares portugueses presentes em São Tomé e Príncipe.