"A URAP foi de novo surpreendida pelas notícias de um projeto que se esperava estar definitivamente enterrado. Custa a compreender que um presidente de Câmara [de Santa Comba Dão] de maioria PS e conhecidos investigadores de história contemporânea, conhecedores do que foi o fascismo e os seus crimes, retomem projeto tão contestado, tão repudiado por democratas e antifascistas e, uma vez mais desrespeitem, com retocados argumentos, sentimentos de todo um povo que tanto sofreu e lutou para se libertar da opressão e do terror", defende num comunicado.
Na nota de imprensa enviada hoje à agência Lusa, subscrita pelos coordenadores nacional, José Pedro Soares, e do Núcleo de Viseu e Santa Comba Dão da URAP, António Vilarigues, a organização sustenta que "repete-se a armadilha para desenterrar o ditador Salazar".
Na sexta-feira, a Casa da Cultura de Santa Comba Dão, no distrito de Viseu, acolheu a cerimónia de assinatura de um protocolo de cooperação para a concretização do CIEN 1926 -- 1974 Regime e Resistência entre o Município de Santa Comba Dão e a Associação Cultural Ephemera, com José Pacheco Pereira.
Para a URAP, os responsáveis podem "exibir percursos académicos, propósitos 'científicos', motivos diversos para justificar o injustificável", porque o "a construção de um pseudo 'Centro de Investigação' do Estado Novo contribui para branquear um regime criminoso e a figura sinistra do ditador nascido no Vimieiro" (concelho de Santa Comba Dão).
No documento, a URAP fez uma resenha pela "história do fascismo" sublinhando os "milhares de presos políticos; milhares de militares mortos na guerra colonial e outros milhares estropiados" e "230 assassinados pela polícia do regime fascista".
Assim, "não pode haver neutralidade face à memória e à história" e "não se pode colocar lado a lado, na mesma balança, democracia e fascismo, como para se dar a escolher; não se pode colocar em confronto torturadores e torturados".
"Não se pode humilhar a memória e a honra dos que com coragem, luta e humanismo iluminaram o inigualável processo libertador", defendeu a URAP.
Isto, porque, a criação do CIEN é, para a URAP, "a promoção de um ditador fascista, de 48 anos de terror e morte que ainda estão presentes na memória dos portugueses", "tenha ele o nome que tiver, não é uma questão de 'polémica'".
"A URAP considera uma afronta que de novo 'ilustres' investigadores, alguns já repetentes em versões anteriores, teimem em querer erguer um tão inqualificável projeto. O país não precisa de locais para romagens dos saudosistas, nem que se falsifique ou branqueie o fascismo e os seus crimes", sublinhou.
Neste sentido, também considerou que a Câmara Municipal de Santa Comba Dão "não pode ser isenta neste teimoso processo" e, acrescentou, o "dinheiro dos impostos dos cidadãos não pode servir para tais fins, mas sim para a promoção de valores humanistas, libertadores e de progresso de que foi e continuará a ser exemplo a Revolução de Abril".
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