'Saudade' é o fado que se canta na hora da despedida a Carlos do Carmo

Aos 81 anos, o desaparecimento do fadista deixa a cultura portuguesa mais pobre.

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Andrea Pinto
02/01/2021 09:22 ‧ 02/01/2021 por Andrea Pinto

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Fado

Deixou-nos na manhã do primeiro dia do ano, aquela que era (e sempre será) uma das figuras incontornáveis da cultura portuguesa. Lisboa, que é menina e moça, será sempre eternizada na sua voz, voz que nos deixou aos 81 anos.

Carlos do Carmo deixou esta sexta-feira o fado (ainda) mais triste. O músico deu entrada no hospital de Santa Maria em Lisboa durante a noite com um aneurisma na aorta e acabou por não resistir. 

Depois de um ano atípico, esperávamos todos que 2021 fosse um ano melhor. Contudo, poucas horas após as doze badaladas chegava a notícia com a qual não queríamos começar o ano. Portugal perdia uma das suas maiores referências. 

Autor de temas como 'Lisboa, menina e moça'; os 'Putos' ou a Gaivota', o fadista deixou um sentimento de "perda" que foi evidenciado por Marcelo Rebelo de Sousa. "Perda por aquilo que Carlos do Carmo fez pela consagração do fado como património imaterial da Humanidade, mas também pelo que deu como voz de Portugal cá dentro e lá fora junto das comunidades portuguesas, prestigiando não apenas o fado, mas a nossa cultura", destacou o chefe de Estado.

O sentimento de saudade que deixa foram ainda lembrados por António Costa e Ferro Rodrigues. O primeiro-ministro, despedindo-se daquele que era "um amigo" fala mesmo num "fado que se entoa, à despedida". "Um dos seus maiores contributos para a cultura portuguesa foi a forma como militantemente renovou o fado e o preparou para o futuro", evocou. Já o presidente da Assembleia da República referiu que "Carlos do Carmo é, inquestionavelmente, um nome ímpar do fado e figura incontornável do meio artístico e da canção portuguesa, numa carreira de décadas que perdurará na memória de todos nós", refere.

Por tudo aquilo que representa, o governo decidiu decretar dia de luto nacional por Carlos do Carmo. A data escolhida é segunda-feira, dia em que acontecem, igualmente, as cerimónias fúnebres do artista.  O velório tem início às 09h,  na Basílica da Estrela, sendo rezada missa de corpo presente pelas 14h. Segue-se o funeral para um cemitério da capital portuguesa ainda a designar, segundo a família do cantor.

Nascido em Lisboa, em 21 de dezembro de 1939, era filho da fadista Lucília do Carmo (1919-1998) e do livreiro Alfredo Almeida, proprietários da casa de fados O Faia, onde começou a cantar, até iniciar a carreira artística, em 1964. A morte de Carlos do Carmo acontece meses depois de ter anunciado a sua despedida dos palcos. Após vários problemas de saúde, o homem que pisou alguns dos maiores palcos do mundo, decidiu que estava na altura de parar. 

"Como diria o velho Marceneiro, 'quem quiser mais, vá para casa e ponha discos'". A frase era de Alfredo Marceneiro, mas muitas vezes repetida por Carlos do Carmo. Na hora da despedida, é com saudade que nos despedimos 'daqueles que se vão como o vento', saudosos por saber que agora sim, só em discos, poderemos recordar a voz de Carlos do Carmo. 

 

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