Desigualdades agravadas pela pandemia "não podem ser perpetuadas"

A nova presidente da Plataforma Portuguesa de ONGD, Ana Patrícia Fonseca, disse hoje que a retoma pós-pandemia não pode perpetuar as desigualdades agravadas pela covid-19, defendendo que os países mais vulneráveis têm de integrar a resposta.

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Lusa
20/01/2021 08:24 ‧ 20/01/2021 por Lusa

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"A pandemia veio reforçar muitas das desigualdades que já existiam e a nossa preocupação é que, na retoma, na forma que vamos encontrar para fazer face à pandemia, as comunidades mais vulneráveis dos países mais vulneráveis sejam parte da resposta e que não se perpetuem essas desigualdades", disse Ana Patrícia Fonseca.

Neste contexto, a responsável manifestou "preocupação" com as informações que dão conta de que a vacina contra a covid-19 apenas chegará aos países em desenvolvimento, nomeadamente a África, em março ou abril.

"Apelamos para que a vacinação seja universal e de acesso a todos e vemos com alguma preocupação que isso não esteja a acontecer", disse.

A nova líder da Plataforma Portuguesa de Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento (Plataforma ONGD), que tomou posse em início de janeiro, falava em entrevista à agência Lusa sobre as prioridades para o seu mandato de três anos.

Ana Patrícia Fonseca, que representa a fundação Fé e Cooperação, reconheceu que assume a presidência da Plataforma de ONGD "num cenário muito complexo" a que às desigualdades económicas, à gestão das migrações, as alterações climáticas e aos vários conflitos e catástrofes se junta "a gestão da crise pandémica".

"É de facto um quadro complexo, mas é neste quadro que as ONGD trabalham", disse, adiantando que é seu objetivo "fazer a defesa do espaço da sociedade civil", garantindo que este "é preservado e promovido".

"Esta preservação inclui garantir que as organizações podem atuar de forma independente, que existem mecanismos de participação na definição e implementação de políticas públicas e que os instrumentos de financiamento preservam a capacidade de iniciativa", disse.

Para Ana Patrícia Fonseca, a educação para o desenvolvimento e a cidadania global "é um grande instrumento do reforço das democracias e do espaço da sociedade civil", numa altura em que "a generalização da desinformação é muitas vezes capitalizada por movimentos populistas e extremistas".

A presidente da Plataforma ONGD assinalou também o impacto da pandemia no trabalho das organizações não-governamentais portuguesas, adiantando que foi preciso fazer adaptações.

"No início, as restrições e os confinamentos foram um grande desafio porque as ONGD trabalham em contextos de grande proximidade com as populações. Tivemos de reinventar muito rapidamente a forma como trabalhamos com as populações. Esse impacto foi muito forte no trabalho e houve uma fase de adaptação e reinvenção para não deixarmos de acompanhar as populações", disse.

Passado o primeiro impacto, Ana Patrícia Fonseca adiantou que as ONGD já "vão conseguindo trabalhar com as populações" quer nos países onde atuam, quer em Portugal, onde a sua ação se centra sobretudo nas escolas com a educação para o desenvolvimento.

A presidente da Plataforma ONGD adiantou que o financiamento dos projetos se "mantém como uma preocupação" das organizações, especialmente numa altura em que é preciso fazer face a problemas acrescidos.

"Há um ano não estávamos a contar com esta problemática. São situações novas que exigem mobilização de fundos e preocupa-nos como é que o setor continuará a ser financiado", disse, adiantando que os atuais mecanismos de financiamento em Portugal "servem, se funcionarem e forem reforçados".

As ONGD recebem financiamentos governamentais, da União Europeia, nomeadamente através do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, mediante a apresentação de projetos.

A plataforma portuguesa de ONGD reúne cerca de 60 organizações não-governamentais e é a principal interlocutora da sociedade civil em matéria de cooperação e ajuda pública ao desenvolvimento.

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