Diretora da Segurança Social de Setúbal demite-se após vacinação indevida

Demissão acontece depois de 126 funcionários da Segurança Social de Setúbal, incluindo dirigentes, terem sido vacinados contra a Covid-19 indevidamente.

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Notícias ao Minuto
29/01/2021 19:24 ‧ 29/01/2021 por Notícias ao Minuto

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Pandemia

A Diretora do Centro Distrital de Setúbal do Instituto da Segurança Social (ISS), Natividade Coelho, apresentou esta sexta-feira o pedido de demissão depois de a SIC Notícias ter noticiado que 126 funcionários (incluindo dirigentes) terem sido vacinados contra a Covid-19 indevidamente.

O pedido de demissão, também avançado pela estação televisiva, já foi aceite pelo Conselho Diretivo da Segurança Social.

Os funcionários em causa foram incluídos numa lista onde só deveriam constar os utentes de lares e todos aqueles que trabalham diretamente nas instituições.

A vacinação dos restantes elementos, assegura a SIC Notícias, constitui uma clara violação das regras de vacinação.

O Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social teve conhecimento do caso depois de ter sido questionado pela estação televisiva e ordenou um inquérito com caráter de urgência.

A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) confirmou à agência Lusa a vacinação de 126 pessoas do CDSSS, e que integravam a lista a diretora Natividade Coelho, militante do PS, bem como diretores de unidade e de núcleo. Porém, a autoridade não assumiu a responsabilidade pela inclusão de dirigentes e funcionários daquela instituição pública que foram vacinados antes de muitos profissionais de saúde, bombeiros e utentes de lares.

"Compete às entidades/instituições que acolhem idosos fazer o levantamento, identificação e listagem das pessoas a vacinar e aos Agrupamentos de Centros de Saúde proceder à vacinação das pessoas identificadas por cada instituição", referiu a ARSVLT, em resposta a perguntas da agência Lusa.

A ARSLVT acrescentou ainda que "a aplicação do Plano de Vacinação contra a covid-19, em especial a vacinação de residentes e profissionais de lares, envolve diversas entidades", esclarecendo que o ACES Arrábida (Agrupamento de Centros de Saúde Arrábida) "recebeu a listagem onde constava o nome da instituição, bem como o número de pessoas a vacinar, tendo, assim, vacinado 126 pessoas da referida instituição, no dia 21 de janeiro".

O PSD de Setúbal já tinha pedido a demissão da diretora do CDSSS, caso se confirmasse que recebeu a vacina da Covid-19 "quando ainda há profissionais de saúde, bombeiros e utentes de lares por vacinar".

"O que aconteceu é algo de muito grave. A ministra da tutela [ministra do Trabalho] não tem outra alternativa senão demitir a Diretora da Segurança Social de Setúbal", defendeu, em comunicado, o presidente da Comissão Política Distrital do PSD de Setúbal, Paulo Ribeiro.

"Já todos percebemos que o plano de vacinação do Governo tem vindo a falhar, assim como toda a gestão da pandemia, mas situações como esta descredibilizam todo o sistema e o combate à covid-19", sublinhou o presidente da distrital de Setúbal do PSD, lembrando que ainda há muitos médicos, enfermeiros, bombeiros e centenas de utentes de lares à espera da vacina para a covid-19.

Também o PSD nacional pediu e a demissão de por Natividade Coelho. Sobre este assunto, o PSD endereçou um requerimento à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e uma pergunta à ministra da Saúde, através do Parlamento.

Os deputados sociais-democratas querem ter acesso à "lista das pessoas a serem vacinadas contra a covid-19 que a direção da Segurança Social do distrito de Setúbal indicou à Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e, posteriormente, remetida ao Agrupamento de Centros de Saúde da Arrábida", e também a "todos os documentos que consubstanciem a definição do critério aplicado para a vacinação".

"Nós pretendemos ter acesso à informação que com certeza que a senhora ministra da Segurança Social já tem em mãos, e que permita perceber em que dimensão é que houve vacinas que foram administradas a pessoas não deviam ter recebido, de acordo com o que está definido no plano de vacinação", explicou à Lusa o deputado do PSD Nuno Carvalho.

O objetivo é entender "porque razão" a ministra Ana Mendes Godinho, tendo esta informação, "não atuou até agora, pelo menos na linha da responsabilidade política, perante a diretora da Segurança Social do distrito de Setúbal que, claramente, já deveria ter dado uma explicação e provavelmente não dá porque tem responsabilidade nesta decisão e, tendo, já se de devia ter demitido ou já devia ter sido demitida", defendeu o parlamentar.

Mais cauteloso, o presidente da Federação Distrital do PS de Setúbal e atual secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendes, lembrou que a ministra do Trabalho "ordenou um inquérito urgente".

"A nossa expetativa, é que os resultados desse inquérito apareçam com a urgência que foi solicitada, tirando-se daí todas as consequências que tiverem de ser tiradas", disse à agência Lusa o dirigente socialista.

Armindo Miranda, responsável pela Organização Regional do PCP de Setúbal, considerou tratar-se "um mau exemplo, em desrespeito pelos critérios nacionais", mas defendeu que se deve aguardar pelo resultado do inquérito do Ministério do Trabalho e pelas explicações da diretora do CDSSS.

"É um mau exemplo se as direções regionais dos Centros Distritais de Segurança Social começarem a ignorar os critérios nacionais e a estabelecer os seus próprios critérios, com exemplos destes que só vêm aumentar a insegurança das pessoas face à pandemia", disse Armindo Miranda.

Recorde-se que veio também a público recentemente, através da Associação Nacional de Emergência e Proteção Civil (APROSOC), a vacinação de profissionais não prioritários no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), que negou as acusações.

Segundo a central sindical, o presidente do INEM "requisitou dezenas de vacinas a mais para imunizar funcionários do instituto, prestadores de serviços e colaboradores externos, parte dos quais seus amigos pessoais, violando as indicações do plano de vacinação" contra a Covid-19.

O INEM justifica que só foram pedidas vacinas para os profissionais prioritários, mas que alguns não preenchiam os critérios para poderem receber a primeira dose da vacina. Por isso, "foi possível administrar as doses sobrantes aos profissionais do INEM que dão suporte à atividade de Emergência Médica, para evitar o desperdício destas", alega.

Leia Também: AO MINUTO: Confiança nos serviços de saúde a cair. OMS preocupada

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