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Covid. Eis (alguns) casos polémicos de administração indevida de vacinas

Casos polémicos sobre administração indevida de vacinas contra a Covid-19 têm vindo a público nos últimos dias. A bastonária da Ordem dos Enfermeiros já veio referir que as situações "minam a confiança das pessoas no sistema".

Covid. Eis (alguns) casos polémicos de administração indevida de vacinas
Notícias ao Minuto

10:45 - 01/02/21 por Notícias ao Minuto com Lusa

País Covid-19

Na semana passada, relatos de administrações indevidas de vacinas contra a Covid-19 começaram a ser conhecidos, trazendo à tona diversos 'atropelos' ao Plano de Vacinação definido. Desde funcionários da Segurança Social a trabalhadores de uma pastelaria, vários foram os casos de alegada má utilização das vacinas que vieram a público.

Um dos primeiros a ser revelado foi o sucedido dentro do próprio Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). A Associação Nacional de Emergência e Proteção Civil (APROSOC) denunciou, através de um comunicado, a vacinação de profissionais não prioritários no INEM.

Segundo a nota da APROSOC, o presidente do INEM, Luís Meira, "contrariou as indicações do Ministério da Saúde e vacinou dezenas de profissionais não-essenciais e que não são profissionais de saúde".

De acordo com o mesmo documento, o presidente do INEM "requisitou dezenas de vacinas a mais para imunizar funcionários do instituto, prestadores de serviços e colaboradores externos, parte dos quais seus amigos pessoais, violando as indicações do plano de vacinação" contra a Covid-19.

Em comunicado, o INEM desmentiu esta versão e negou "todas e quaisquer acusações de favorecimento pessoal" no seu processo de vacinação. "O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) pediu apenas vacinas para os profissionais prioritários, tendo recebido as 1.174 doses de vacina anti-covid-19 Comirnaty® (Pfizer-BioNTech) solicitadas, que foram administradas a todos os profissionais prioritários que manifestaram interesse em ser vacinados", indicou.

Outro dos casos ocorreu na Segurança Social de Setúbal, onde pelo menos 126 funcionários foram vacinados contra a Covid-19, quando o fármaco deveria ter sido administrado apenas a utentes de lares e todos aqueles que trabalham diretamente nas instituições.

A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) confirmou à agência Lusa a vacinação de 126 pessoas do CDSSS, e que integravam a lista a diretora Natividade Coelho, militante do PS, bem como diretores de unidade e de núcleo. Porém, a autoridade não assumiu a responsabilidade pela inclusão de dirigentes e funcionários daquela instituição pública que foram vacinados antes de muitos profissionais de saúde, bombeiros e utentes de lares.

A ARSLVT acrescentou ainda que "a aplicação do Plano de Vacinação contra a Covid-19, em especial a vacinação de residentes e profissionais de lares, envolve diversas entidades", esclarecendo que o ACES Arrábida (Agrupamento de Centros de Saúde Arrábida) "recebeu a listagem onde constava o nome da instituição, bem como o número de pessoas a vacinar, tendo, assim, vacinado 126 pessoas da referida instituição, no dia 21 de janeiro".

A Diretora do Centro Distrital de Setúbal do Instituto da Segurança Social (ISS), Natividade Coelho, apresentou na sexta-feira o pedido de demissão.

Já no passado dia 30, sábado, o responsável pela delegação do Norte do INEM pôs o lugar à disposição depois de ter sido noticiado que o instituto tinha vacinado contra a Covid-19 funcionários de uma pastelaria no Porto. Segundo noticiou o Correio da Manhã, a delegação regional do Norte do INEM incluiu os proprietários e funcionários de uma pastelaria do Porto no grupo de profissionais que foi vacinado na primeira fase do plano de vacinação e que receberam as duas doses da vacina.

"Não quisemos deitar vacinas ao lixo", disse. "Recebemos a indicação que teríamos cerca de 85 frascos no domingo à noite, correspondia, segundo o que estava descrito, a 425 doses. Precisámos de planificar, de chamar as pessoas, perceber quem queria, quem poderia fazer a administração das vacinas, foi um processo contínuo", explicou o responsável.

Questionado sobre se não lhe ocorreu pedir um parecer da DGS sobre o que fazer com as 11 vacinas ou a quem as administrar, o responsável respondeu que "estamos a falar de 'timings', estamos a falar de um limite de tempo para administração daquela vacina", elaborando que, "depois de serem descongeladas, as vacinas têm um limite de 120 horas em que podem ser administradas, mas vêm em frascos que estão concentrados e têm de ser diluídos e depois disso têm cerca de 5/6 horas para ser administrados. Depois de preparados em seringa é preciso diminuir ao menor tempo possível a sua administração. Tínhamos 11 vacinas preparadas da manhã, que resultaram de um erro de planeamento, naturalmente".

O conselho diretivo do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) "aceitou o pedido" do diretor regional no Norte.

Esta segunda-feira, foi a vez da Secção Regional do Centro (SRCentro) da Ordem dos Enfermeiros (OE) ter revelado que recebeu denúncias de vacinação indevida contra a Covid-19 a dirigentes da Associação de Solidariedade Social de Farminhão, em Viseu. A informação foi revelada num comunicado enviado, esta segunda-feira, ao Notícias ao Minuto.

Nesta, pode ler-se que, no passado dia 18, "além dos colaboradores e utentes da Unidade de Cuidados Continuados, foram também vacinados o presidente da Assembleia Geral, o presidente da Direção, a vice-presidente (filha do presidente da Direção), a vogal (esposa do presidente da Direção), o tesoureiro, o vogal e a diretora executiva".

Além de "todas estas pessoas da direção", a carta anónima aponta ainda que foram "também vacinadas duas funcionárias da secretaria que exercem as suas funções no edifício do lar e não na Unidade de Cuidados Intensivos": a esposa do tesoureiro e uma mulher que, "no dia da vacinação, se encontrava de baixa há mais de um mês e veio só para receber a vacina, continuando de baixa".

Já ao final da manhã desta segunda-feira, a Secção Regional do Centro (SRCentro) da Ordem dos Enfermeiros (OE) informava as redações que acabara de receber mais uma denúncia de vacinação indevida contra a Covid-19, desta feita, na Fundação da Nossa Senhora da Conceição, em Valongo do Vouga, concelho de Águeda.

"A mensagem, partilhada através das redes sociais da SRCentro, relata que o padre da freguesia, familiares das enfermeiras que administraram a vacina e outros funcionários da instituição (que não lidam diretamente com utentes ou infetados com Covid-19) terão recebido doses da vacina contra a Covid-19, enquanto os próprios bombeiros de Águeda, e enfermeiros do hospital do baixo Vouga e auxiliares ainda não foram imunizados", pode ler-se num comunicado.

Ministério e Enfermeiros reagem. "É inaceitável"

O ministério da Saúde reagiu, este domingo, à polémica com o INEM do Norte, que terá vacinado onze funcionários de uma pastelaria situada próxima da sua sede. Em comunicado, o gabinete liderado por Marta Temido diz que "considera inaceitável qualquer utilização indevida de vacinas que decorra durante o processo de vacinação" e lembra que o plano em causa foi "concebido com base em critérios técnicos, suportados na melhor evidência científica".

Assim, embora admita que as vacinas possam vir a ser administradas a pessoas não previstas inicialmente, essas escolhas devem ser reportadas.

Já a bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE), Ana Rita Cavaco, saudou a criação de uma lista de outras pessoas prioritárias para vacinação, considerando que a utilização indevida de vacinas contra a Covid-19 "mina a confiança das pessoas no sistema".

De recordar que no mês de fevereiro, que hoje começa, dá-se início à nova fase de vacinação, que inclui portugueses que tenham 50 anos ou mais anos e que sofram de algumas doenças identificadas. Esta fase prolonga-se até final de março, conforme prevê a primeira fase do plano nacional.

Leia Também: AO MINUTO: Arranca nova fase de vacinação; Janeiro, o mês com mais mortes

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