Setor funerário quer estar entre os prioritários na vacinação
Dirigentes de associações representativas do setor funerário defenderam hoje que os profissionais desta área devem integrar os grupos prioritários de vacinação contra a covid-19, justificando com o risco e com o facto de ser uma atividade de primeira necessidade.
© Lusa
País Covid-19
"A vacinação [dos profissionais] do setor é importante", afirmou à agência Lusa o presidente da Associação Portuguesa dos Profissionais do Setor Funerário, Paulo Carreira, alertando que numa "pequena funerária, com poucos recursos, se um dos elementos é infetado, a probabilidade de ter de isolar profilaticamente toda a equipa é enorme".
"Logo, essa funerária vai estar incapaz de, durante pelo menos 15 dias, poder realizar funerais", declarou, admitindo que esta situação "poderá estar a acontecer" e se "em grandes cidades não é tão visível pela quantidade de funerárias que consegue absorver" a necessidade atual, em cidades mais pequenas esta dificuldade "poderá ter uma visibilidade maior".
Paulo Carreira adiantou que os profissionais deste setor deveriam integrar os grupos prioritários para a vacinação contra a covid-19 porque estão em ambientes de risco e por ser considerada "uma atividade de primeira necessidade dentro da cadeia sanitária do país".
No âmbito dos riscos, o dirigente exemplificou com situações em que as agências têm de "ir buscar um falecido a um lar onde tenha havido um surto" ou numa casa.
"Muitas vezes não sabemos as condições que vamos encontrar. Vamos protegidos, certo, mas (...) há sempre algum risco envolvido", observou.
Referindo já ter transmitido à Direção-Geral da Saúde (DGS) esta situação, Paulo Carreira avisou que "não pode deixar de haver oferta funerária para bem do país", pois está a falar-se de saúde publica.
O presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL), Carlos Almeida, disse à Lusa ter pedido esclarecimentos à DGS na sequência da publicação da norma sobre a fase 1 da campanha de vacinação contra a covid-19.
"Pedi esclarecimentos para saber em que fase nos vamos inserir e se vamos ser catalogados como qualquer cidadão, o que não me parece o mais aconselhável face ao trabalho que fazemos", salientou Carlos Almeida, realçando que o setor "está no fim da linha da frente" da pandemia.
O presidente da ANEL notou que, como 99% das 1.300 agências funerárias são pequenas e médias empresas familiares, "se alguém apanha covid-19, a probabilidade de todos terem e de encerrar a atividade é o passo a seguir", como já aconteceu.
"Pode acontecer haver localidades em que não haja depois uma empresa funerária próxima para poder executar os serviços fúnebres", advertiu, explicando que "fechar uma agência funerária não é a mesma coisa que fechar um balcão de um banco".
Carlos Almeida realçou, por outro lado, a importância da atividade e a exposição ao risco a que os profissionais do setor estão sujeitos, porque fazem transporte de cadáveres do hospital, mas também de lares da terceira idade e de domicílios.
"Temos todos os cuidados, mas não estamos num ambiente 100% controlado e claro quando vamos a casa das pessoas ou a lares", afirmou, acrescentando que "o ato do funeral não é só a sua execução prática", tem "um antes, um durante e um depois, em que é inevitável o contacto pessoal".
A norma sobre a fase 1 da campanha de vacinação contra a covid-19 define os procedimentos a observar para a implementação da primeira fase do plano, sendo que entre os grupos prioritários para receber a vacina nesta fase passaram a estar também as pessoas com 80 ou mais anos.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.237.990 mortos resultantes de mais de 103,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 13.017 pessoas dos 731.861 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da DGS.
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