"Não há hipóteses de desafiar este mandato nem dentro nem fora dele", afirmou Mari Alkatiri, na sua primeira reação ao anúncio da disponibilidade de Rui Araújo anunciada recentemente em entrevista à Lusa.
"É o círculo vicioso: cada cinco anos aparece uma tendência. E depois vão todos parar ao sítio que nós sabemos, que é fora. Mas não estou preocupado com isto", comentou.
Em 27 de janeiro, o ex-primeiro-ministro timorense Rui Araújo disse à Lusa que está disponível para se candidatar à liderança da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), maior partido do país, quando o processo de eleições internas ocorrer.
"Estou a pensar nisso, com outros camaradas. É um movimento. Estamos a trabalhar", disse em declarações à Lusa, explicando que apesar de estar atualmente afastado de cargos políticos continua "ativo na política".
"Temos eleições para a liderança do partido pela frente. Dependente das decisões do Comité Central e da vontade dos militantes", frisou.
Questionado sobre o anúncio, Alkatiri disse que o ex-chefe do Governo tem o direito a candidatar-se.
"Rui Araújo tem todo o direito de querer estar disponível. Mas a verdade é que em política é assim: quando uma pessoa arrisca, ou petisca ou não petisca", comentou, sem tecer comentários adicionais.
A possível candidatura de Rui Araújo - que foi primeiro-ministro no VI Governo e ocupou ainda a pasta de ministro da Saúde -- ao cargo de secretário-geral da Fretilin tem vindo a ser alvo de debates políticos em Timor-Leste há um longo período.
Vários nomes têm sido associados a esta eventual candidatura num processo eleitoral com data ainda por marcar, que a concretizar-se seria a mais recente tentativa de desafio à liderança do atual secretário-geral.
O anúncio causou um intenso debate político em Timor-Leste, com vários militantes da Fretilin a surgirem a público a apoiar Araújo e o assunto a marcar parte da agenda mediática.
Entre as questões em que diverge de Alkatiri, Araújo destaca a da Fretilin viabilizar desde meados do ano passado o VIII Governo, que formalmente nasceu em 2018 assente numa coligação pré-eleitoral onde estava o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão, que posteriormente saiu do executivo.
"Sempre defendi que a forma mais adequada para a Fretilin participar era formar um Nono Governo, liderado ou facilitado pela Fretilin. O entendimento seria diferente", disse Araújo, admitindo que isso foi parte do que o levou a não aceitar um convite para integrar este executivo.
"Não só isso, mas penso que não há condições políticas para trabalhar a sério em áreas muito técnicas como a saúde, porque há muita balcanização e politização. É melhor deixar para outros e eu dar a minha contribuição em termos técnicos", frisou.