Estado deve investir a sério no capital humano, diz Ordem dos Médicos
A Ordem dos Médicos (OM) defende que o Estado deve "investir a sério" no Serviço Nacional de Saúde a dois níveis: no capital humano e na capacidade de resposta do SNS a desafios atuais e futuros.
© Lusa
País Covid-19
O bastonário da OM, Miguel Guimarães, falava à agência Lusa a propósito do primeiro ano da epidemia em Portugal (dia 2 de março de 2020 foi diagnosticado o primeiro caso de infeção), e sobre as lições que se podem retirar da pandemia, que já levou a dois confinamentos gerais em Portugal para travar a disseminação do vírus SARS-Cov-2.
Uma das lições é que os políticos de todo o mundo "percebam definitivamente a importância que a saúde tem em termos daquilo que é a capacidade de resposta de um país, seja na área da economia, da justiça, da educação, enfim, em todas as áreas de intervenção social".
Aludindo a Portugal, Miguel Guimarães afirmou que existe "a obrigação de investir muito mais no Serviço Nacional de Saúde, do que aquilo que tem sido investido, e investir a sério a dois níveis fundamentais".
"Temos que investir muito no capital humano e temos que reforçar claramente a capacidade de resposta do SNS, que já tinha dificuldade em dar resposta a 10 milhões de portugueses" antes da pandemia, em que já eram ultrapassados "em muitos casos" os Tempos Máximos de Resposta Garantidos para primeira consulta hospitalar e para cirurgia.
Para isso, defendeu, o país deve ter "uma boa resposta" às necessidades atuais dos cidadãos e ter "uma reserva de resposta para situações mais agudas e mais impactantes como é o caso da covid-19".
"Esta é uma tensão mundial muito grande, mas nós temos habitualmente a gripe sazonal em que os serviços de urgência ficam completamente entupidos e sem capacidade de resposta e temos de adiar um conjunto de doentes", observou, advertindo que, de "hoje para amanhã", pode aparecer outro tipo de doenças infetocontagiosas que podem causar também grandes problemas.
Por outro lado, apontou, a pandemia mostrou "o espírito de solidariedade e humanismo que existe entre as pessoas, nomeadamente em Portugal".
Deu também o exemplo do apoio dado por outros países a Portugal com o envio de profissionais de saúde para ajudar nos cuidados intensivos, um acontecimento que considerou importante.
"Não porque venham ajudar muito, porque não são um número significativo para dar uma ajuda a sério, mas este espírito de cooperação e de solidariedade entre os países europeus fazem-nos acreditar mais naquilo que são as boas vontades, nos princípios basilares da União Europeia que não podem ser só assentes na economia dos Estados, mas também na defesa da saúde das pessoas, na defesa de princípios essenciais como os vários direitos que estão consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos", sustentou.
Para Miguel Guimarães, a pandemia também veio mostrar que Portugal tem de ter "um serviço de saúde forte e que pode em circunstâncias especiais ter que colaborar com o setor privado e social".
"É fundamental as pessoas terem esta noção que em situações de crise é importante haver uma integração e uma colaboração global do sistema de saúde liderado pelo SNS", defendeu.
No caso de haver uma nova pandemia, por exemplo, a capacidade de resposta já é mais integrada, evitando que "hospitais entrem em falência técnica".
Por último, disse, a pandemia também trouxe "desafios para o futuro" em termos de uma "verdadeira transformação digital na área da saúde, que pode ter vantagens enormes em várias áreas distintas".
"Não é substituída a relação médico/doente, mas é complementar a essa relação humana, é conseguir, por exemplo, que doentes crónicos possam ser observados com mais frequência, através da verdadeira telemedicina, com imagem, porque é mais reconfortante, do que estar a fazer um simples telefonema", ou através de aplicações específicas que podem revelar-se "uma mais valia", evitando que os doentes "passem a vida a ir aos hospitais".
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