Um dos assuntos que está a marcar a semana é a suspensão temporária da administração de vacinas da AstraZeneca depois de mais de três dezenas de pessoas, de vários países europeus, terem sofrido "eventos tromboembóicos" (quando um coágulo sanguíneo bloqueia uma veia) após terem sido vacinadas.
Apesar de, durante vários dias, as autoridades de saúde portuguesas terem recusado a ideia de suspender a inoculação de doses da AstraZeneca, esta segunda-feira, a Direção-Geral da Saúde (DGS) anunciou que, assim como outros 21 países, tinha tomado a decisão de parar, por enquanto, a administração das vacinas da farmacêutica em questão.
Confrontado com esta repentina alteração de planos, o coordenador da comissão técnica de vacinação contra a Covid-19, da DGS, explicou esta terça-feira, na SIC Notícias, que "a cada tempo, em função dos novos dados que vão sendo conhecidos, dados que muitas vezes surgem a cada hora, as decisões têm que ser adaptadas" e que o que mudou, de um dia para o outro, "foi o conhecimento de mais casos, reportados em países europeus".
"Percebeu-se, ao longo do fim de semana e nas primeiras horas de segunda-feira, que havia um número maior de casos reportados em mais países e foi cada vez mais claro que não estávamos perante um problema de um ou dois lotes específicos, mas de algo que podia ser mais generalizado", realçou Válter Fonseca.
Esta perceção, acompanhada por um "conhecimento mais rigoroso das características clínicas que estavam em causa", ou seja, "da gravidade dos casos reportados", fez a DGS optar por uma "atitude de prevenção e prudência" e suspender a inoculação com as vacinas da Covid-19, "enquanto se esclarece, de uma forma definitiva, o que está em causa com os casos e esta vacina"”.
"Quando se levanta uma dúvida, aquilo que devemos fazer perante a população que está obviamente à espera de ser vacinada para se proteger de uma doença grave é dizer que estamos a colocar a sua segurança em primeiro lugar. Levantou-se uma dúvida. É verdade que estamos a falar de casos muito raros, se olharmos para os 17 milhões de doses já administradas pela AstraZeneca nos países europeus, mas a sua gravidade colocou-nos uma atitude de prudência", clarificou o responsável, acrescentando que a DGS tem consciência que o apuramento dos, alegados, efeitos secudários "é muito relevante para as pessoas".
"Qualquer especialista na área, olhando para a descrição daqueles casos que foram reportados, fica preocupado. Não porque sejam muito frequentes, mas porque são graves. E até se esclarecer o que se passou com estes casos, a atitude deve ser de prudência", admitiu.
Recorde-se que, só em Portugal, mais de 250 mil pessoas foram vacinadas com doses da farmacêutica AstraZeneca.
Na próxima quinta-feira, dia 18 de março, o regulador europeu anuncia conclusões sobre os casos em investigação e os efeitos secundários das vacinas em questão.
Leia Também: Suspensão da vacina cria quebra de confiança difícil de reconstruir