Nuno Artur Silva falava na abertura da conferência 'online' de alto nível "Inteligência Artificial e o futuro do jornalismo - A IA tomará posse do 4.º poder?", que decorre hoje e em 12 de maio, na sala Luís I do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia (UE).
"A pergunta que associamos ao título desta conferência parece remeter para um futuro distópico, na linha da visão tecno-pessimista que vaticina que a inteligência artificial um dia suplantará a inteligência humana" e "submeterá a humanidade a uma condição de servidão", começou por dizer o governante.
"Mas tal não poderia estar mais longe da nossa convicção. Com efeito, entendemos que a inteligência artificial pode incrementar a inteligência humana, permitindo que nos suplantemos em todos os domínios", considerou.
"É certo que esta mudança, como todas as mudanças, traz custos e coloca riscos, podendo neste caso os riscos serem mesmo riscos existenciais, mas nem vale a pena perdermos tempo a pensar se o futuro seria melhor ou pior sem a inteligência artificial, pois ela é uma inevitabilidade", considerou.
Nesse sentido, a pergunta à qual é preciso dar resposta é: "Como usá-la para que seja o degrau que nos ajuda a subir em vez de ser a parede contra a qual esbarramos", apontou.
Nuno Artur Silva sublinhou ter presente "vários episódios recentes" que levantam preocupações relativamente ao papel que a inteligência artificial "pode ser na potenciação da desinformação, na polarização das sociedades" e, "por consequência, na corrosão da democracia, das sociedades livres e abertas".
Admitindo a existência desse risco, o secretário de Estado defendeu que é preciso "atuar no sentido de prevenir a sua concretização", mas a sua verificação é algo inevitável.
"Lembremo-nos a este propósito de um outro desenvolvimento tecnológico que abalou o mundo -- a invenção da imprensa de Gutenberg", apontou o governante.
"Não há dúvida que", no que diz respeito ao mundo ocidental, "tal desenvolvimento iniciou uma das forças motrizes que levou ao fim de uma visão do mundo fechada e encaminhando as sociedades para uma nova era mais aberta e consolidando o caminho para o iluminismo que viria a abrir caminho, por sua vez, às sociedades de construção democrática modernas", prosseguiu.
"Creio que ninguém hoje, se pudesse, voltaria ao tempo pré-imprensa", comentou.
Nuno Artur Silva apontou, a propósito da invenção da imprensa, que este ano é celebrado em Portugal os 200 anos da primeira lei que contempla a proteção da liberdade de imprensa.
"Decorreram vários séculos entre a introdução da invenção de Gutenberg e a aprovação da lei", sendo que o hiato temporal é explicado historicamente "pelo facto dos poderes instituídos naquela época temerem os impactos da democratização do conhecimento e o escrutínio que a liberdade de opinião implica".
O governante salientou que este relato serve como uma "metáfora" para o modo como se tem de lidar com a inteligência artificial.
"Não procuremos parar ou atrasar a sua adoção pelo receio da disrupção, esforcemo-nos antes por liderar esse processo, conduzindo segundo os valores estruturantes da imprensa como a verdade, o rigor e o pluralismo", sublinhou.
"A democracia depende do jornalismo, ele é o sistema imunológico da democracia, nas palavras de Al Gore", referiu, questionando o que fará a inteligência artificial a esse sistema e o que pode ser feito para que o fortaleça.
"Procurando estimular a reflexão tendo em vista a resposta à questão de partida para esta conferência (...) não acredite que a inteligência artificial vá retirar o ser humano da equação, mas pode desviar a imprensa daqueles valores. Será assim necessário sermos proativos, não deixando que se desenvolva ao acaso, ou pior, que se desenvolva segundo agendas que não são as das sociedades abertas e democráticas", afirmou.
Esta conferência decorre em cinco sessões, começando com exemplos concretos da adoção de tecnologias baseadas em inteligência artificial nas redações.
A conferência é bilingue (português/inglês) e tem também interpretação para língua gestual portuguesa e gestos internacionais.
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