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Pior do que "faroeste" no Alentejo e culpa é do Governo, acusa empresário

José Fayo, empresário agrícola espanhol no sudoeste alentejano, considera que a situação que se vive na região é pior do que o "faroeste", uma confusão generalizada e mal-entendidos, e vê um único culpado: o Governo português.

Pior do que "faroeste" no Alentejo e culpa é do Governo, acusa empresário
Notícias ao Minuto

08:31 - 19/05/21 por Lusa

País Odemira

A região é caracterizada pela coabitação entre o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e a zona de agricultura intensiva, com centenas de hectares de culturas de regadio, muitas delas em estufas. Nas últimas semanas foi muito noticiada a situação dos imigrantes, que trabalham sazonalmente na região, e um surto de covid-19 que levou à imposição temporária de uma cerca sanitária.

"O Governo português não sabe o que faz nem o que quer para a agricultura", diz, comentando à Lusa a situação, que afeta especialmente o concelho de Odemira.

E começou logo, diz, com a questão do PNSACV.

"Aqui há um perímetro de rega de há 50 anos, o Parque Natural chegou depois. Como é que marcam um parque natural encima de um perímetro de rega? Se querem fazer um parque natural têm de falar com as pessoas, indemnizá-las, e depois fazerem o que quiserem. Mas assim? Vão decidir o que eu tenho de fazer na minha casa? Com o meu dinheiro?", questiona.

José Fayo trabalha em Portugal há 25 anos, teve uma fábrica de sumos em Silves, citrinos em Alcácer. No concelho de Odemira comprou hectares de terreno, muitos, e envolveu-se numa disputa legal de pareceres e embargos que durou anos. Diz que ganhou todos os casos em tribunal.

Está agora, finalmente, a preparar o terreno para começar a sua agricultura, não com estufas, mas com árvores, abacates.

Mas o abacate não consome muita água? Eleva a voz na resposta: "o abacate consome menos água do que as laranjeiras ou as oliveiras, tudo o resto são mentiras. As estufas emitem dióxido de carbono, nós limpamos o dióxido de carbono".

E José Fayo tem outras convicções, como a de que aquilo que pode salvar Portugal é a agricultura e o turismo, pelas condições do solo e pelo clima, como a de que os "sete mil hectares de estufas da região são legais".

E tem também coisas que não entende. E explica: o trabalho do perímetro de rega (através da barragem de Santa Clara e de um sistema de canais) precisa de pessoas e os empresários há sete anos que pedem para fazer apartamentos para os trabalhadores, mas as autoridades dizem que não é possível fazer habitações dentro das explorações, embora agora se possam colocar contentores.

"Cada trabalhador devia vir com um papel passado pela embaixada portuguesa de cada país e com um contrato para uma empresa. Assim não havia máfias nem irregularidades. E as pessoas vinham já com casa, não se metiam 15 pessoas dentro de um quarto, autênticas pocilgas". E acrescenta: "Máfias? Há 10 anos que acontece e só agora é que viram?".

No atual estado de coisas há apartamentos na região que rendem mais do que um andar na avenida da Liberdade, em Lisboa, diz.

"O problema não está nos agricultores, está na administração, que não permite apartamentos nas quintas para que cada empresário tenha trabalhadores controlados e legais. E sabe porque não pode ser assim?". A resposta chega de seguida: "Porque se for assim as casas alugadas acabam, e os donos dessas casas são os que votam, não os trabalhadores".

Tudo questões que, afirma, não deixam desenvolver o que chama de "Califórnia da Europa".

Pela sua parte, diz, tinha terreno para fazer uma centena de apartamentos, pela sua parte, acrescenta, segue as regras, como de resto os outros empresários, que pagam a empresas de trabalho temporário, e que não sabem se estas cumprem também a lei, pela sua parte,cpntinua, pratica uma agricultura sustentável e sempre cumpriu as leis.

Por agora, e se tudo correr bem, os terrenos que ladeiam o local dos famosos festivais de música vão ter abacates, mas José Fayo diz que só tem 47 hectares dentro do perímetro de rega3 e que os restantes estão sujeitos a haver ou não água.

E esse é outro problema. O empresário não entende que se desperdice 30% da água que sai da barragem para o perímetro de rega (devido ao sistema que se criou, nos anos 1960 e 1970), diz que é preciso aproveitar toda a água, avisa que tudo o que são produtos poluentes têm de ser recolhidos e tratados e não podem ser despejados diretamente nas ribeiras.

E nem percebe porque não há ainda uma proposta concreta do Governo para adaptar o perímetro de rega (há estufas, por exemplo, junto de arribas e o objetivo é haver uma reordenamento, transferindo-as para outro local), proposta com a qual, diz, os empresários até estão de acordo.

"Quem tem 50 hectares não pode construir uma casa mas pode construir estufas. Aqui não querem que se faça nada, ninguém fiscaliza nada. Os agricultores querem fazer as coisas bem, todos, mas há quem não quer resolver, há aqui uma espécie de fantasma que não deixa que isto funcione".

José Fayo, empresário, confessa que está farto de ouvir mentiras sobre o que se passa para os lados do concelho de Odemira. Mas confessa também que concorda com os que lamentam que se continuem a fazer estufas na região. "Mais estufas não, mais árvores sim".

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