O retrato a óleo sobre chapa de cobre tem tanto de pequeno - 9 por 7,4 centímetros - como de íntimo, pois pertence às pinturas usadas no século XVII para apresentação de futuros esposos ou como recordação de família.
A peça mostra Maria Guadalupe de Lencastre jovem, semelhante ao rosto reconhecido nas paredes do Mosteiro de Guadalupe, em Cáceres, Espanha, onde repousam os seus restos mortais.
Também o Museu do Prado e a Real Academia das Belas Artes de São Fernando, em Madrid, possuem pinturas da duquesa portuguesa, que se casou, em 1665, em Espanha, com o fidalgo castelhano Manuel Ponce de Leão (1632-1639), futuro 6.º Duque de Arcos de la Frontera, Marquês de Zara e Conde de Bailen.
A duquesa retratada nesta imagem é acompanhada, junto ao seu nome, da inscrição "minha mãe", pelo que, com grande probabilidade, pertenceu a Joaquim Ponce de Leão, um dos seus três filhos, e sétimo duque de Arcos.
De acordo com o diretor da Leilões Zorrilla, Sebastián Zorrilla, encarregado do leilão que decorrerá na quarta-feira, "o Uruguai é um mercado onde não surpreende que surjam peças desta qualidade devido aos intercâmbios entre Espanha e a América Latina, para onde as famílias nobres se deslocavam, sobretudo nas épocas de guerra".
A peça de autor desconhecido faz parte de um lote da coleção de Elina Gallinal Castellanos de Eguiluz, a quem foi entregue por Alejandro Gallinal Heber, proveniente, por sua vez, das suas antepassadas Elena Heber Jackson de Gallinal e Clara Jackson de Heber, na linhagem de uma família uruguaia distinta.
A leiloeira estima que a obra, da escola barroca madrilena, pode ter sido criada por algum aluno ou pintor próximo de Velázquez (1599-1660), que morreu antes da chegada da duquesa de Aveiro a Espanha, a partir de Portugal.
Maria Guadalupe de Lencastre e Cardenas teve acesso a conhecimentos culturais pouco frequentes na época, segundo o historiador espanhol Rafael Valladares, contactado pela agência EFE: "Esta senhora quando chega a Madrid promove algum tipo de devoção religiosa, como todas as aristocratas da época que se converteram em mecenas de alguma obra religiosa, fundaram uma capela, ou promoveram missões. A duquesa de Aveiro, como toda a sua família, está muito familiarizada com as missões de jesuítas na China, Índia, Macau, Goa e Brasil".
Estudos sobre a duquesa revelam que conhecia sete idiomas -- português, grego, latim, italiano, francês, inglês e castelhano -, detinha uma biblioteca com mais de 4.000 livros sobre variados temas e uma coleção de arte com obras de El Greco ou Luca Giordano, entre outros.
O seu nome apenas teve reconhecimento público na atualidade, como sublinhou o leiloeiro Sebastián Zorrilla, que considera o pequeno retrato com "qualidade histórica de valor artístico excecional".
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