"Todas as intervenções devem integrar aspetos de boa convivência entre deslocados e os locais, os apoios não devem ser canalizados só para deslocados, ignorando totalmente a população local", referiu o prelado.
O bispo referia-se tanto à "alocação de infraestruturas" - como terrenos e materiais de construção de casas - como a outros "benefícios de desenvolvimento": devem ser "integrados deslocados e os locais".
António Juliasse Sandramo falava à Lusa depois de se ter reunido na sexta-feira com consultores da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), entidade estatal que está a traçar planos para o desenvolvimento social e económico de Cabo Delgado.
Segundo afirmou, na perspetiva, da igreja a ADIN deve contribuir para uma boa convivência social entre deslocados e locais.
"A necessidade de haver segurança" está "acima de tudo" e assim aponta uma prioridade: "Que não se alargue cada vez mais o conflito militar que existe na província de Cabo Delgado".
O prelado disse que promover o diálogo com muçulmanos e no seu seio é uma das chaves para travar a violência armada.
Para tal, defende "o diálogo com irmãos muçulmanos e [entre] eles mesmos, nas suas várias vertentes e famílias, [para que] encontrem caminhos também de dialogar com a juventude e demonstrar que a verdadeira face da religião islâmica não combina com a violência".
"Tudo o que é violento e extremista não é a verdadeira face [do islamismo]", sublinhou.
"Estamos todos juntos nesta busca da paz", destacou.
Juliasse Sandramo lembrou ainda que sem segurança os investimentos retraem-se ou recuam, dando como exemplo o atual momento, em que vários projetos criados para Cabo Delgado pararam devido aos ataques armados de insurgentes.
"Se não houver segurança, é difícil haver algum investimento. Alguns investimentos estão parados justamente por causa de insegurança", acrescentou.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico.
Os ataques e confrontos com militares moçambicanos já provocaram mais de 2.800 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados de acordo com o Governo moçambicano.
Um ataque a Palma, junto ao projeto de gás em construção, em 24 de março provocou dezenas de mortos e feridos, sem balanço oficial anunciado.
As autoridades moçambicanas anunciaram ter recuperado o controlo da vila, mas a população continua em fuga e tem relatado novos tiroteios e mortes.
A situação levou a petrolífera Total a abandonar o recinto do empreendimento que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
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