O virologista João Gonçalves afirmou, esta segunda-feira, na SIC Notícias, que a variante Delta é cerca de" 60% a 70% mais transmissível" do que as outras estirpes e que os anticorpos têm cinco vezes menos capacidade de o neutralizar, ou seja, esta variante é mais resistente às vacinas contra a doença.
"Este vírus parece ser 60% a 70% mais transmissível do que a variante Alfa [do Reino Unido]. Além disso, há uma coisa importantíssima, além de ser mais transmissível, os anticorpos têm cinco vezes menos capacidade de o neutralizar do que o normal. Isto é muito importante porque, ao mesmo tempo que ele consegue transmitir melhor, também vai fugir mais aos anticorpos que se desenvolvem com a vacina", explica o especialista, acrescentando que a estirpe indiana "é mais infeciosa e mais rápida".
"Esta variante é mais infeciosa, é mais rápida a infetar. Mas este pode ser um calcanhar de Aquiles do próprio vírus. Eu acho que aqui a questão e a grande pedra de toque é que se ele é mais transmissível então nós vamos conseguir isolá-lo mais rapidamente e acho que aqui a contenção e a testagem é que vão conseguir isolar esta variante", realça.
Perante isso, João Gonçalves defende que os objetivos do plano de vacinação deviam ser revistos, pois a imunidade de grupo já não será atingida com apenas 70% da população portuguesa vacinada.
"Parece que este vírus tem essa capacidade de fugir e ser mais resistente às vacinas. Isto é muito importante porque reflete-se na parte da imunidade de grupo dos 70%, ou seja, quando nós falávamos em imunidade de grupo, em outubro ou novembro, falávamos com uma eficácia de 95%. Não acredito que aconteça e estamos aqui com um cenário que é o cenário antigo. Neste momento, devíamos a olhar para um valor de 90% a 100% de vacinados. Com esta capacidade que o vírus tem de fugir aos anticorpos, o objetivo do plano de vacinação deve ser vacinar mais de 90% das pessoas. Os 70% como imunidade de grupo é um cenário que tínhamos há uns meses atrás, mas não é o atual com estas variantes que estão a aparecer", clarifica.
E é devido a esta capacidade de infeção e de transmissão da variante Delta, que o virologista considera que restrições à Área Metropolitana de Lisboa (AML) "são medidas de esforço inútil".
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