Em declarações aos jornalistas, à margem da apresentação do Centro de Excelência da Água, em Gondomar, no distrito do Porto, João Pedro Matos Fernandes admitiu que os trabalhos em São Pedro da Cova estão "praticamente parados", isto depois de "há cerca de um mês" ter sido ali encontrado um "mistério espantoso".
"Foi encontrada uma surpresa que foram alguns engenhos explosivos, pequenas bombas e algumas granadas. Foram encontrados 10/11 explosivos. O trabalho não está totalmente parado porque há zonas onde é possível repor solo para o concluir da obra, mas vamos acreditar que dentro de um mês, dois meses, encontramos a forma certa e segura para poder retirar esses explosivos", disse o governante.
Na quinta-feira à noite, num esclarecimento enviado à agência Lusa, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-Norte) confirmou que "foi detetada a presença de alguns antigos engenhos explosivos" nos terrenos das antigas minas de São Pedro da Cova, local onde em 2001/2002 toneladas de resíduos industriais perigosos provenientes da Siderurgia Nacional, que laborou entre 1976 e 1996, na Maia, foram depositados.
Esta entidade apontou que a deteção dos explosivos "motivou a adoção de medidas de segurança tendo em vista salvaguardar as pessoas que trabalham na operação".
Hoje, o ministro do Ambiente e da Ação Climática confirmou que ao local foi chamada a GNR e o Exército português, entidades que terão a dupla missão de promover a segurança e desenvolver uma investigação.
Os engenhos terão de ser retirados à mão e não com retroescavadora.
"Enquanto não houver uma completa segurança sobre aquilo que vamos fazer, obviamente os trabalhos não podem continuar", disse o ministro.
Matos Fernandes admitiu que o calendário da operação de remoção dos resíduos, uma ambição da população que há décadas luta pela requalificação do espaço, vai sofrer alterações, mas garantiu que é para continuar.
"São Pedro da Cova tem tido muitas surpresas negativas, mas a nossa perseverança é total. Não paramos e nunca iremos parar. O papel do Governo com a CCDR-Norte é muito claro: é acabar com um passivo ambiental insuportável em prol das gentes de Gondomar. Isto significa um atraso, mas vamos até ao fim. Vamos tirar todos os resíduos perigosos que alguém, um dia, de forma indevida colocou naquele espaço", sublinhou.
Na quinta-feira, a CCDR-Norte disse que esperava "retomar tão brevemente quanto possível [a operação], dando cumprimento ao objetivo fixado".
Em causa estão a remoção e o transporte "para aterro próprio e adequado" da "totalidade dos resíduos perigosos depositados em São Pedro da Cova", acrescenta a entidade, reconhecendo que este é "um dos mais importantes passivos ambientais da região Norte".
"À data, os trabalhos previstos encontram-se executados a cerca de 90%", acrescentou a CCDR-Norte.
A remoção destes resíduos começou em outubro de 2014, mais de 10 anos depois do depósito, tendo terminado em maio do ano seguinte, com a retirada de 105.600 toneladas.
Para dar seguimento à operação, o Estado alocou a esta empreitada 12 milhões de euros do Fundo Ambiental.
O concurso registou sete candidatos e em abril de 2018 foi anunciado que a remoção terminaria em 2019, mas o processo foi adiado devido a uma impugnação judicial que só conheceu um desfecho em 15 de novembro de 2019.
Em meados de maio foi tornado público que o Governo vai disponibilizar 2,2 milhões de euros para prolongar a remoção depois de ter sido detetado que existem mais 28 mil toneladas, valor que corresponde a mais 20% de resíduos ainda por retirar, de acordo com o que disse à Lusa o presidente da Câmara de Gondomar, Marco Martins.
Ao longo dos anos, esta situação motivou perguntas e requerimentos de partidos políticos, bem como iniciativas locais como vigílias, concentrações e protestos, e o envio ao primeiro-ministro, António Costa, de milhares de postais com a frase "Remoção total dos resíduos perigosos em São Pedro da Cova já", acompanhada de imagens a simbolizar sinais de perigo.
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