Em entrevista à Lusa em Luanda, o antigo governante e dirigente do CDS-PP afirmou que faz sentido que quem partilha o espaço lusófono tenha acesso mais simplificado à mobilidade, salientando que o facto de se concretizar de forma progressiva "é uma garantia da sua melhor efetividade".
O ex-MNE, que assumiu a pasta num Governo de coligação PSD/CDS-PP, assinou, em 2011, um protocolo sobre a Facilitação de Vistos (PFV) entre Angola e Portugal com o então ministro das Relações Exteriores angolano, Georges Chikoti, e afirmou que a mobilidade deve distinguir a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) de outras organizações semelhantes.
Segundo o ex-governante, "partilhar cultura, uma língua, partilhar momentos da história e sentimentos, deve significar, não de uma forma radical, mas progressiva, um acesso preferencial do ponto de vista da mobilidade".
"Penso que o facto de ser por etapas encontra menos resistência e é mais efetivo", prosseguiu, salientando que para a existência de um espaço económico na lusofonia é essencial que haja maior mobilidade de empresários ou estudantes.
"É isso que mostra o interesse prático quotidiano que a lusofonia pode ter para as pessoas", declarou Paulo Portas, em vésperas da XIII cimeira de chefes de Estado e de Governo da CPLP, que decorre nos dias 16 e 17 de julho, em Luanda, cidade que visitou esta terça-feira para participar numa conferência sobre banca organizada pela Deloitte Angola.
O acordo para a mobilidade, que deverá ser assinado durante a cimeira, foi a grande bandeira da presidência cabo-verdiana, que esta semana termina a sua vigência, transitando agora para o país anfitrião do evento, Angola.
Paulo Portas destacou igualmente o crescente interesse externo que atrai a organização, medido pela quantidade de países que pedem para ser observadores da CPLP.
"Só pede para ser observador de uma organização internacional à qual, em princípio, não se pertence quem tem um interesse em aproximar-se, no caso, da lusofonia. Tanto quanto sei, nos últimos tempos, o número e a qualidade dos países tem crescido, é um sinal bastante interessante", disse.
Do mandato de Angola, que se prolonga nos próximos dois anos, espera mais progresso e "mais CPLP na vida quotidiana das pessoas", numa altura em que há também "mais mundo a olhar para a CPLP".
Questionado sobre o que atrai esses países à CPLP, Paulo Portas sublinhou que a organização acolhe uma das maiores economias do mundo -- o Brasil -- com relações privilegiadas com outras potências económicas como os EUA e a China e determinante para a União Europeia, e está unida por uma das línguas ascendentes em termos mundiais.
"A língua portuguesa está mais globalizada graças à Internet, é multicontinental e está em crescimento demográfico, nomeadamente por causa de África, é uma das línguas ascendentes do mundo", referiu.
Ou seja, a CPLP "é interessante como mercado, como foro de uma língua ascendente e o peso dos países lusófonos em África é relevante", o que torna este espaço "interessante para terceiros do ponto de vista político, económico e cultural, presente e futuro", sendo necessário também que a lusofonia seja uma prioridade simultânea dos países da CPLP.
Hoje afastado da vida política e ligado à consultoria de negócios em vários países, entre os quais Angola, Paulo Portas defendeu que um mundo globalizado precisa de comércio, investimento e inovação, que terão, no caso de África, o continente mais jovem do mundo, de estar ligados à capacitação criando oportunidades de emprego.
Portugal e Angola têm reafirmado, nos últimos tempos, a excelência das suas relações, o que para o ex-político se traduz em benefícios para ambas as partes.
"Ambos os países têm a maior vantagem em ter as melhores relações. Tudo o resto são circunstâncias da vida, pode haver circunstâncias que aqui prejudicam, ali limitam, mas, no essencial, só temos a perder se as relações não forem boas e só temos a ganhar se forem boas", considerou.
E deixou um aviso: "Se, porventura, Portugal não fizer aquilo que deve nas relações com Angola, obviamente outros ocuparão o nosso lugar, não há espaços vazios em globalização e Portugal não tem muitas relações com o mundo como a que tem com Angola".
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