Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, apresentou, esta quarta-feira, a proposta para um novo indicador de avaliação do impacto da pandemia na saúde, num trabalho conjunto desenvolvido entre a ordem profissional e o Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Em conferência de imprensa, o responsável adiantou que a nova matriz de risco "vai seguir hoje mesmo para a ministra da Saúde" e que o Presidente da República também "já tem conhecimento [sobre o indicador]," cabendo agora ao Governo decidir.
De acordo com o bastonário, este "é um indicador democrático" que poderá "ser feito em casa" por qualquer cidadão e que dá "uma fotografia diária" da situação pandémica no país.
"É uma ferramenta interessante para achatar a curva", resumiu o bastonário da Ordem dos Médicos
O objetivo é que, através da colocação de alguns dos dados epidemiológicos divulgados diariamente pela Direção-Geral da Saúde (DGS) numa plataforma que será, pelo menos disponibilizada no site da Ordem dos Médicos e do Instituto da capital, seja possível qualquer pessoa aferir, "em cada circunstância", "em que ponto é que estamos relacionado com aquilo que é a gravidade da situação" pandémica.
Nesta plataforma apenas terá de se introduzir os seguintes valores e números: Rt, incidência, internamentos em enfermaria, hospitalizações em cuidados intensivos, e os óbitos relacionados com a Covid-19.
Depois, explicou também Miguel Guimarães, será gerado um "indicador global" realizado através destes "indicadores parciais", que "vai dos 0 até aos 180 pontos", sendo que, neste momento, o país encontra-se com 100 pontos, já "na chamada fase crítica".
Na sessão de apresentação, na Ordem dos Médicos, em Lisboa, o matemático Henrique Oliveira, especialista em sistemas dinâmicos, sustentou ainda que os dois indicadores que compõem a atual matriz de risco "não chegam" e "começam a dar uma visão parcial do problema".
A atual matriz "é lenta" e "são precisos indicadores mais rápidos", sustenta Henrique Oliveira
A proposta hoje apresentada, que resultou de um "trabalho de equipa" de especialistas do Instituto Superior Técnico e da Ordem dos Médicos, não deita fora os dois indicadores existentes - incidência e transmissibilidade (Rt) -, mas complementa-os com mais três: letalidade, internamentos em enfermaria e internamentos em unidades de cuidados intensivos.
O novo indicador pode ser usado em qualquer sítio e a qualquer escala, permitindo que se adotem medidas adaptadas a regiões ou concelhos. "É um indicador feito com conhecimento científico", acrescentou Henrique Oliveira.
"Estamos sempre a correr atrás da pandemia", lamentou Henrique Oliveira, considerando que as medidas em vigor para responder à pandemia estão "sempre com atraso". "O combate à pandemia exige reuniões de equipas especializadas em cima do acontecimento, não se pode esperar uma semana para reagir", alerta.
Além disso, "a incidência acumulada a 14 dias é um indicador fraco", que impede a rapidez na resposta. No entender do especialista, essa incidência devia ser "usada a sete dias, no mínimo".
O que impede um pior cenário é a vacinação, "que não está a falhar", concluiu. "Se, nesta altura, não houvesse vacinação, as circunstâncias seriam semelhantes às de janeiro e fevereiro", sublinhou Henrique Oliveira,
Recordando que "as novas variantes serão sempre piores e mais transmissíveis", o especialista salientou a "flexibilidade" do indicador proposto.
De acordo com o indicador, Portugal está, nesta altura, nos "92,3, um bocadinho abaixo da ebulição [que se dá aos 100]", esclareceu Henrique Oliveira.
Convencido de que "a vacinação está a ter efeito e a puxar os indicadores para baixo", o matemático explicou que, mesmo se a incidência subir aos quatro mil casos por dia (o que já não lhe parece "tão provável"), o indicador subirá "ao máximo de 94/95 e depois vai descer". Henrique Oliveira acredita que "a incidência vai descer dentro de 10 a 15 dias".
Vacinação? Bastonário deixa um elogio e um agradecimento
Ainda em declarações aos jornalistas, o bastonário fez questão de salientar que a vacinação contra a Covid-19 "tem sido uma mais valia" para o país.
"Portugal tem sido um exemplo na vacinação na União Europeia (...). e também têm sido um exemplo os cidadãos portugueses que têm aceite ser vacinados", afirmou, elogiando o facto de que em Portugal, ao contrário de outros países como a Grécia ou Reino Unido, a recusa da vacinação "ser uma questão que não se coloca".
Ainda que a população esteja "a aderir a este projeto", Miguel Guimarães lembrou que, para os jovens, que começaram a ser vacinados recentemente, é necessário não descurar e os "motivar, estando mais perto deles, através de campanhas", por exemplo, na área do Desporto e da Cultura.
O responsável terminou a sua intervenção deixando um "agradecimento público" ao coordenador da task force, o vice-almirante Gouveia e Melo, pelo "trabalho magnifico que tem feito na área da vacinação".
Importa recordar que no início deste mês, o bastonário da Ordem dos Médicos defendeu, em declarações à Lusa, que existiam medidas alternativas ao confinamento que deviam ser usadas para travar a pandemia, como regras mais restritas, uma fiscalização efetiva e uma nova matriz de risco, anunciado que estava a ser desenvolvida uma proposta.
Na altura, o responsável adiantou ainda que esta nova matriz teria vários parâmetros ajustados à realidade pandémica atual.
[Notícia atualizada às 14h06]
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