Numa altura em que o país alcançou a meta de ter 85% da população vacinada contra a Covid-19 com pelo menos uma dose, a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, considerou, em entrevista à SIC Notícias, que o dia de hoje é "importante para todos nós". "85% da população portuguesa tem uma dose da vacina e esse é um resultado de que devemos todos, enquanto povo, estar bastante orgulhosos", assinalou.
Quanto ao futuro e aos receios, "há sempre algum cuidado a encarar o outono e o inverno", sublinhou, alertando que estas são, por definição, "duas estações de grande stress em termos da nossa saúde". "Em todo o mundo", no outono e no inverno, "se adoece e se morre mais, mesmo sem Covid-19", lembrou a diretora-geral, referindo-se aos efeitos da gripe e de outros vírus respiratórios que circulam.
Quais são os três cenários em cima da mesa?
Graça Freitas explicou que estão a ser preparados três cenários distintos na preparação dos próximos meses no que toca à pandemia. O "bom cenário" pressupõe que "as coisas se comportarão como agora, ou seja, com uma tendência estável decrescente da atividade pandémica no nosso país, em que a variante Delta tem 100% de domínio".
E, portanto, "o cenário mais plausível, se nada se alterar, será uma tendência parecida" com a atual, em que a população está imunizada, não há novas variantes e a vacina não perde a sua efetividade. Um segundo cenário acontecerá se se registar "uma subida lenta de casos porque a vacina pode ir perdendo o seu efeito ao longo do tempo, mas ainda sem uma nova variante". Este será "um cenário de mais casos, provavelmente mais casos ligeiros do que graves". O terceiro é "o cenário pior", que "não está posto fora de questão que é poder existir uma nova variante que venha colocar desafios" ao estado atual do país, em que uma grande percentagem da população está vacinada e imunizada.
Questionada sobre se essa variante pode ser a Mu, Graça Freitas disse que "pode ser uma qualquer". "O que sabemos é que os vírus sofrem mutações frequentes, e que essas mutações vão dando origem a variantes. Nem todas são competentes para destronar a que está a circular, mas pode acontecer uma variante com capacidade de se transmitir ainda mais do que a Delta e, eventualmente, escapar ao efeito da imunidade anterior, quer a imunidade vacinal, quer a imunidade conferida pela doença", explicou.
Neste terceiro cenário, que a diretora-geral de Saúde enfatizou que não pode ser colocado de parte, a preocupação será a "pressão sobre o Sistema Nacional de Saúde" ao nível dos casos graves em Unidades de Cuidados Intensivos. "O pior cenário prevê realocação de recursos e, eventualmente, mais recursos, mas vamos esperar que isso não aconteça. Vamos esperar, mesmo que surja uma nova variante, que a imunidade que fomos adquirindo nos proteja e nos confira aquilo que se chama a imunidade cruzada".
Terceiro dose a vulneráveis?
Sobre a possibilidade de administração uma terceira dose a grupos vulneráveis, como os idosos, Graça Freitas adiantou que a farmacêutica Pfizer submeteu, nos últimos dias, à Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês) o pedido para aprovação deste reforço de imunização.
"Teremos de esperar que o regulador nos diga se sim, se não. De qualquer maneira, estamos a fazer o trabalho de casa em duas frentes: a científica, que vai acompanhando toda a evolução, e a logística. Continuamos a adquirir vacinas para um cenário de ser necessário a terceira dose ou de reforço", assegurou.
Fim do uso da máscara na rua?
Sobre o fim da obrigatoriedade do uso da máscara na rua, uma decisão que será tomada pela Assembleia da República, Graça Freitas afirmou que "se a decisão for tomada é porque a ciência e a epidemiologia indicam que esse é o caminho certo". "A opinião da DGS é a dos cientistas e da ciência. O risco de transmissão ao ar livre é muito menor, e com 85% da população previsivelmente vacinada com duas doses, a circulação do vírus será muito menor (...) A opinião da DGS é que, com 85% da vacinação, com o que os estudos indicam, será uma medida positiva".
Mas há exceções, alertou. É que mesmo ao ar livre há situações em que há ajuntamentos. "Creio que ainda durante este inverno, e durante mais uns tempos, é de muito bom tom irmos bem avisados andar sempre com uma máscara. (...) Deve continuar a usar-se máscara ao ar livre em algumas situações, mesmo com um risco muito pequeno", recomendou Graça Freitas.
Em Portugal, desde março de 2020, morreram 17.798 pessoas e foram contabilizados 1.047.047 casos de infeção confirmados, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil ou Peru.
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