Em declarações aos jornalistas, em Nova Iorque, o Presidente da República defendeu que é preciso evitar "o regressar ao unilateralismo, o salve-se quem puder", com o qual "perdem todos".
Questionado sobre a atuação da atual administração norte-americano, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que é possível encontrar "mensagens de abertura ao multilateralismo" no discurso que Joe Biden fez na terça-feira nas Nações Unidas.
"Essas mensagens esperamos nós que estejam presentes na atuação da administração nos próximos anos, porque o papel norte-americano é fundamental para que o multilateralismo vá em frente", acrescentou.
Depois, Marcelo Rebelo de Sousa alargou este apelo todas as potências regionais e mundiais, declarando: "É preciso que todas mantenham essa disponibilidade, para além dos episódios de cada instante".
Sobre o pacto trilateral de defesa entre norte-americanos, britânicos e australianos para a região do Indo-Pacífico (denominado AUKUS, com as iniciais dos três países anglo-saxónicos), que levou ao cancelamento por parte da Austrália de um contrato com a França para o fornecimento de submarinos, o Presidente da República disse que Portugal acompanha a posição da União Europeia, mas procura manter o diálogo entre aliados.
"Há este equilíbrio, esta dupla preocupação: acompanhar em solidariedade os membros da União Europeia, neste caso, um membro da União Europeia [a França], ao mesmo tempo numa postura e numa atitude de encontrar pistas de diálogo e de resolução que envolvam outros países que são muito próximos e aliados dos países da União Europeia".
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que sobre este assunto houve uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros Europeus, "que definiram a solidariedade que existe, naturalmente, dentro da União Europeia, dentro de um clima que é de procura de pistas de entendimento alargado e de diálogo alargado".
O Presidente da República chegou no sábado aos Estados Unidos da América, para participar na 76.ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), e regressou esta quarta-feira a Portugal.
Desde que veio pela primeira vez às Nações Unidas (ONU), em 2016, já pôde "lidar com três administrações", de Barack Obama, Donald Trump e agora Joe Biden, salientou.
No seu discurso nas Nações Unidas, na terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu as vacinas como bem público global e apelou ao compromisso e concertação entre as nações, contra "o isolacionismo, o protecionismo, o unilateralismo, a intolerância, o populismo e a xenofobia".
"Vinte anos depois do 11 de Setembro, seis anos depois do Acordo de Paris, um ano e meio depois do começo da pandemia, precisamos mais do que nunca de um multilateralismo efetivo. Não nos discursos, nas ações, não há mesmo mais tempo a perder", apelou.
O chefe de Estado insistiu na mensagem, que tem reiterado nos últimos dias, de que "nenhum polo, nenhuma potência, por poderosa que seja, tem condições para enfrentar sozinha ou com alguns parceiros" problemas como as alterações climáticas, pandemias ou o terrorismo.
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