O Presidente da República afirmou, na primeira entrevista após as eleições de 26 de setembro, que as eleições "autárquicas têm sempre uma leitura nacional", lembrando que elas já levaram à demissão de um primeiro-ministro.
Em entrevista à TVI, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que o que se vai passar nos próximos três a quatro meses é "decisivo", já que "os partidos vão ter de fazer a sua leitura dos resultados".
É que - lembra o chefe de Estado - a partir do verão do ano que vem "começa o tempo pré-eleitoral para 23".
O Presidente da República defende que, até lá, deve haver "estabilidade" governativa e diz mesmo que não tenciona usar o poder dissolução da AR até ao fim do mandato parlamentar. Apesar disso, Marcelo defende que deve haver uma "alternativa forte" ao Governo de António Costa.
Questionado por Miguel Sousa Tavares se essas duas ideias não são contraditórias, Marcelo responde que "o que provoca mais instabilidade é não haver alternativa forte" e aponta o exemplo da política francesa.
O Presidente da República assinalou o afastamento entre PSD e CDS-PP que antecedeu uma fragmentação à direita e defendeu que o problema para uma alternativa forte nesta área é mais de estratégia do que de liderança.
"Para haver uma alternativa plausível e forte no centro-direita e à direita, o problema não é apenas, não é sobretudo de liderança, é um problema de estratégia", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, em entrevista à TVI.
À esquerda, o Presidente da República atribuiu aos "partidos que têm viabilizado orçamentos" dos governos do PS as seguintes questões: "O que é que vamos fazer? Que leitura retiramos das autárquicas? Reforçar a prazo a base de poder ou enfraquecê-la?".
"Portanto, o que eu digo é o seguinte: a leitura que os partidos fizerem à esquerda e à direita destas autárquicas vai determinar a sua estratégia para as legislativas", sustentou.
Ainda sobre a leitura das autárquicas, Marcelo recusa comentar a possível mudança de líderes partidários e garante: "Não tenciono criar nenhum partido, nem promover nenhum congresso para apoiar uma oposição".
Depois de, no início de setembro, o Expresso ter avançado que Marcelo Rebelo de Sousa não acreditava que António Costa se recandidatasse em 2023, o chefe de Estado diz agora que isso "dependerá da reflexão que o secretário-geral do PS fará da situação pós-autárquicas".
Num balanço do primeiro mandato, Marcelo aponta que acompanhou "mais do que se pensa, a crise bancária e o fim da crise orçamental", que esteve "atento aos fogos" e que "se aprendeu alguma coisa com os fogos e gestão da floresta" e refere ainda o seu papel enquanto Presidente no combate à pandemia.
Já sobre os seus desejos para o país até ao fim do mandato, o Presidente da República sublinha que "a grande ambição é que reforcemos a nossa posição do mundo".
"Para isso, temos de crescer mais, ter menos desigualdades, ter melhor formação, ter capacidade de fazer compromissos", detalha. "O que eu espero não é apenas o PRR. Primeiro, que o PRR seja verdadeiramente um instrumento nacional. Segundo, que seja executado com rigor, transparência e eficácia. Depois, que o dinheiro dos outros fundos comunitários do quadro financeiro plurianual vá ainda mais longe que o PRR e que isso crie as tais mudanças estruturais."
A propósito do PRR e da polémica em torno de Costa ter usado esse instrumento como bandeira na campanha eleitoral, Marcelo recusa comentar "campanhas autárquicas", mas sublinha: "O PRR não é um monopólio do Partido Socialista, nem do Governo, é do país".
O chefe de Estado reconhece que "os líderes partidários têm sempre a tentação de, no poder, utilizar os instrumentos de poder" e assegura que analisou isso para si, mas recusa comentar.
[Notícia atualizada às 22h29]
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