"Tendo em conta a realidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o esforço que já passou e as situações de rutura em vários hospitais nos últimos tempos, eu penso que esta é a estratégia possível", disse à Lusa o vice-presidente da associação, Gustavo Tato Borges.
Na sexta-feira, a Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou o referencial para o outono e inverno, ou seja, as linhas orientadoras para as entidades do SNS de resposta à pandemia nos próximos meses, e que define como objetivo principal a minimização dos casos de doença grave e de mortalidade por covid-19.
Esta estratégia, que prevê três cenários de nível de gravidade da situação pandémica, pretende "garantir uma resposta eficiente e coordenada, ajustada à situação epidemiológica da infeção por SARS-CoV-2 e aos desafios adicionais do período outono/inverno, reduzindo o impacto na morbimortalidade na população em geral e nos grupos de risco", avança o documento.
Para Gustavo Tato Borges, o referencial "deveria ser mais sucinto e focado naquelas que são as medidas específicas para combater" a pandemia nos próximos meses, lamentando também que tenha sido publicado "com a época de outono em pleno".
"Já deveria ter saído há mais de um mês para podermos estar completamente preparados", alertou o médico, ao salientar que "convém ter tempo" para um hospital ou um centro de saúde se prepararem para uma eventual maior pressão dos seus serviços.
O especialista em saúde pública adiantou ainda que, a partir do momento que foram levantadas as restrições, o "peso da responsabilidade do controlo da pandemia passou também a ser muito de cada cidadão".
"Não havendo nada de extraordinário, a nossa realidade poderá passar entre o cenário mais favorável e o intermédio, porque não há razão, neste momento, para antever uma situação de extrema gravidade" no inverno, adiantou o vice-presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.
O cenário 1 previsto pela DGS assume que não existem alterações na eficácia da vacina contra a covid-19, nem o aparecimento de uma nova variante de preocupação nos próximos meses. Nesta situação, Portugal deverá registar uma incidência do vírus moderada, com reduzida mortalidade e ocupação de cuidados intensivos, sem pressão adicional sobre o sistema de saúde.
O cenário intermédio já prevê uma redução lenta da eficácia das vacinas, por diminuição da imunidade com o tempo, mas ainda sem o aparecimento de uma nova variante do vírus considerada de preocupação.
Nesse cenário 2 a incidência do SARS-CoV-2 será elevada, resultando numa ocupação moderada a elevada das unidades de cuidados intensivos e uma pressão ligeira a moderada no sistema de saúde.
De acordo com os pressupostos e estimativas calculadas pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), o limiar definido ao nível dos cuidados intensivos é ultrapassado na segunda quinzena de janeiro.
Já no cenário considerado mais preocupante, o 3, está previsto o surgimento de uma nova variante com características que permitem a evasão do SARS-CoV-2 ao sistema imunitário, provocando uma redução rápida da eficácia da vacina, e um aumento da transmissibilidade do vírus e da gravidade da doença.
Neste caso, a incidência do SARS-CoV-2 será muito elevada, assim como a ocupação das unidades de cuidados intensivos dos hospitais portugueses, prevendo o INSA que o limiar seja ultrapassado mais cedo, na primeira quinzena de janeiro.
Este cenário aponta ainda para uma mortalidade devido à covid-19 muito elevada e, de acordo com os cálculos do INSA, o limiar definido pode ser ultrapassado na segunda quinzena de dezembro.
Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.129 pessoas e foram contabilizados 1.084.534 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.
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