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Pandemia teve um "terrível impacto" na mobilidade das pessoas

A neurologista Ana Verdelho afirmou hoje que a pandemia teve um "terrível impacto" na mobilidade das pessoas, contando que teve doentes que deixaram de andar nos períodos de confinamento.

Pandemia teve um "terrível impacto" na mobilidade das pessoas
Notícias ao Minuto

23:09 - 10/12/21 por Lusa

País Neurologista

"A pandemia teve um terrível impacto, a mobilidade das pessoas perdeu-se, a atividade social perdeu-se, a atividade cognitiva perdeu-se, portanto, houve de facto uma redução de todos os estímulos que nós tínhamos", disse a coordenadora da consulta de demências do Hospital Santa Maria, em Lisboa, e uma das autoras do livro "Toca a Mexer", lançado hoje.

Questionada se a pandemia já está a ter reflexo a nível das demências, Ana Verdelho afirmou que neste momento não se sabe porque houve "uma enorme mortalidade das pessoas mais velhas".

"A esperança" e "o desejo" dos especialistas é que se consiga ir contrariando o número de pessoas com demência em Portugal (217 mil), "mas seguramente irão aumentar".

"A sobrevivência reduziu, mas também se reduziu a qualidade de vida das pessoas e se conseguirmos com um manual ajudá-las a manterem-se ativas seja em casa, seja no jardim, seja onde for, penso que demos o nosso contributo à comunidade, foi essa a ideia", salientou a investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

A investigadora e também autora do livro, Helena Santa-Clara, adiantou, por seu turno, que o confinamento no grupo de participantes no estudo "foi dramático" devido ao isolamento social e à dificuldade de terem orientações específicas neste caso para a atividade física.

"Não sendo médica, não serei a melhor pessoa para poder relatar a gravidade como que chegam à parte clínica, mas ao nível da saúde mental geral, da satisfação das pessoas que nós acompanhamos nos programas, eles sentiram-se muito", contou a especialista em Fisiologia do Exercício.

Helena Santa Clara adiantou que continuaram a supervisionar os participantes e fizeram sessões através de 'zoom', mas, disse, "e completamente diferente".

"Acho que há duas faixas de população que sofreram imenso com o confinamento: as crianças e as pessoas mais idosas", rematou.

Ana Verdelho apontou, por outro lado, que os doentes estão a chegar muito mais tarde ao hospital, porque têm medo de lá ir, adiam as consultas e não são avaliados.

"Infelizmente não se está a atuar precocemente e infelizmente eu posso dizer que tenho doentes que deixaram de andar nos períodos de confinamento e depois com esforço, percebendo que era necessário, voltaram a recuperar a marcha", lamentou Ana Verdelho.

Daí a importância da atividade física para prevenir a demência, mas também outros aspetos como o controle da hipertensão, da diabetes, a alimentação e o bem-estar psicológico ao longo da vida.

Isto porque, apesar de haver tratamentos que melhoram muito a vida das pessoas com demência, nenhum "é curativo".

O manual "Toca a mexer" resultou de uma investigação científica que decorreu durante dois anos e que promoveu a prática da atividade física em pessoas com problemas cognitivos de causa vascular, com o objetivo de avaliar se a atividade física era benéfica para melhorar a capacidade cognitiva, bem como a parte motora e o estado emocional.

As 130 páginas do manual estão ilustradas com exercícios para melhorar a saúde cerebral e a capacidade motora, acompanhadas de instruções de como se devem fazer corretamente e de estratégias para lidar com a diminuição da rapidez de pensamento, entre outras dicas.

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