Num momento em que Portugal regista um aumento considerável de casos de Covid-19 devido à rápida propagação da variante Ómicron, especialistas e políticos voltam a reunir-se na sede da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), em Lisboa, para avaliar a situação epidemiológica do país.
"Esta fase é caracterizada pelo número de novos casos mais elevado desde o início da pandemia", começa por introduzir Pedro Pinto Leite, da Direção-Geral da Saúde (DGS), realçando a "tendência fortemente crescente" da incidência em todas as regiões do país, das quais destaca Lisboa e Vale do Tejo e a região autónoma da Madeira.
"Temos um aumento na incidência em todos os grupos etários, mas este aumento foi maior nos grupos etários mais jovens", adianta.
O responsável recorda que a última semana foi aquela com maior número de testes realizados, - cerca de 1.7 milhões -, com 10% de positividade, valor superior ao de referência, de 4%.
Pedro Pinto Leite alerta ainda que o aumento no número de casos tem de ser "observado com alguma cautela", principalmente no que toca os efeitos que poderá ter nos internamentos e na pressão não só no sistema de saúde, mas também no setor social e económico.
"Encontramo-nos abaixo do nível de alerta [de ocupação de camas], e muito abaixo do que já foi o nosso valor nas unidades de cuidados intensivos", complementa, revelando que também a mortalidade se situa abaixo dos valores estipulados.
Na mesma linha, o risco de morte é inferior para quem tem o esquema vacinal completo e a dose de reforço. "Por cada 100 casos [nos 80 ou mais anos] que não estavam vacinados, cerca de 27 morriam. Com a vacinação, reduzimos este valor para cerca de 1 em 10, e com a vacinação de reforço passámos para 1 em 20", exemplifica.
Já João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), refere que Portugal tem 40 mil infetados com a Ómicron, havendo uma "elevada heterogeneidade" na sua transmissão. À data de ontem, 90% dos casos de Covid-19 são associados à estirpe, avança, com grande disseminação no grupo etário dos 20 aos 29 anos.
No campo da gravidade da infeção, Ana Paula Rodrigues, também do INSA, diz que o risco de hospitalização é maior nas crianças com menos de cinco anos e nos adultos mais velhos, "aquilo que é esperado." Nos adultos entre os 20 e os 60, um estudo escocês regista uma redução do risco internamento, comparativamente com a variante Delta.
A efetivação do reforço vacinal é "moderada a elevada" contra a Ómicron, atingindo os 80% no que toca o risco de hospitalização. Em outubro, 86% da população mostrava ter anticorpos contra o SARS-CoV-2, principalmente na faixa etária acima dos 70 anos.
Além disso, nos grupos mais novos, ainda que protegidos de forma moderada a elevada, é esperada uma maior carga de doença, mas com "gravidade mais baixa."
As eventuais medidas apresentadas para contenção da pandemia a partir do dia 10 de janeiro serão discutidas amanhã, em Conselho de Ministros.
Além dos peritos, no local está o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, o primeiro-ministro, António Costa, e a ministra da Saúde, Marta Temido.
Os representantes dos partidos, membros do Conselho de Estado e parceiros sociais participam a partir de videoconferência.
Esta manhã, a DGS anunciou que o período de isolamento para as pessoas assintomáticas que testem positivo ao SARS-CoV-2 e que têm doença ligeira passa a ser de sete dias. Foi ainda alterada a definição dos contactos de alto risco, que terão também um período de isolamento de sete dias.
O encontro dá-se numa altura em que a incidência do vírus em Portugal subiu para 1.805,2 casos por 100 mil habitantes, e o índice de transmissibilidade (Rt) alcançou os 1,43.
Ontem, Portugal contabilizou 15 mortes e 25.836 novos casos de Covid-19, segundo o boletim divulgado pela DGS. No total, o país soma 1.460.406 casos de infeção e 19.015 óbitos associados ao SARS-CoV-2.
[Notícia atualizada às 10h56]
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