O Presidente da República fez uma declaração ao país, invulgar após uma reunião desta segunda-feira do Conselho de Estado, para condenar mais uma vez a invasão russa na Ucrânia e a apelar ao fim da guerra, mas "com serenidade".
Para Marcelo Rebelo de Sousa, "é dramaticamente urgente encurtar a guerra, mas com serenidade e não com expedientes negociais, concebidos apenas para ganhar tempo ou paralisar a resistência e a unidade contra a agressão".
"É crescente o apelo generalizado a um abreviar da guerra, por aquilo que poupa de custos humanos ao povo ucraniano e ainda, embora menos importante, pelo que limita de riscos de uma nova e mais complexa Guerra Fria, a destruir décadas de diálogo sobre a paz, o combate às desigualdades, à miséria, à fome, o clima e a saúde global", acrescentou o chefe de Estado.
O Presidente elogiou a atitude nacional de solidariedade e de condenação da invasão, afirmando que "nós, em Portugal, temos feito exatamente o que devíamos e deveremos continuar a fazer", e apontou que "condenámos o que praticamente todos viriam a condenar e condenámos muito antes da maior parte desses todos". "Ainda hoje condenámos unanimemente no Conselho de Estado", referiu.
Sobre a crise energética e de bens essenciais que poderá afetar o país no futuro próximo, cenário para o qual o Governo anunciou esta segunda-feira novas medidas e apoios, o chefe de Estado admitiu que não se ilude "quanto aos tempos muito difíceis que aí vêm”, fazendo paralelos com os esforços exigidos durante a pandemia dos últimos dois anos.
"Tal como na pandemia, porque acreditamos que vale a pena fazer tudo, mas mesmo tudo, para que a paz chegue e chegue depressa", disse.
"Temos de garantir bens essenciais, de assegurar o funcionamento da economia, de apoiar as empresas, a começar nas dos setores cruciais, cuidar das pessoas, em particular das mais pobres, carenciadas ou sacrificadas. Temos ainda de exigir dos responsáveis a contenção nas palavras. Tudo isto com firmeza nos valores e princípios, clareza nas decisões, mas serenidade na postura", acrescentou ainda nesta temática.
Marcelo vincou ainda a "quase unanimidade do mundo na condenação da agressão da Federação Russa à Ucrânia, só com quatro votos contra" além da Rússia na Organização das Nações Unidas.
Para o Presidente, a união revela "por um lado o chocante no tempo, na legitimidade e no alcance dessa intervenção, e a extrema preocupação com a instabilidade, a imprevisibilidade, a incerteza criadas com a violação de princípios básicos: o respeito do direito internacional, a independência, a soberania e a integridade territorial dos Estados".
"Não há como negar que a comunidade internacional rejeitou o que considerou e considera ser intolerável", salientou.
Sobre a resistência ucraniana, o Presidente da República também falou sobre a força dos ucranianos, ao considerar os "2,5 milhões de refugiados em menos de três semanas, a buscarem acolhimento em países ocidentais" para depois voltarem à sua pátria. Fazendo uma repetição discursiva, acrescentou que "não há como negar que a intervenção russa deparou com o repúdio claro por parte do povo ucraniano."
"O que já se passou teve, tem e terá custos enormes na vida de todos nós, nomeadamente na Europa. Não há como negá-lo ou fazer de conta de que esses custos não cairão de uma forma ou de outra nas nossas vidas. E há que enfrentá-los com a mesma coragem e determinação reveladas nos últimos dois anos, em espírito de unidade, coesão, solidariedade e eficácia", rematou.
A reunião teve como único ponto a guerra na Ucrânia, e começou a meio da tarde sem a presença de quatro membros: Domingos Abrantes, nome histórico do PCP; Carlos César, presidente do PS; Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira; e Rui Rio, o ainda presidente do PSD, que testou positivo à Covid-19.
[Notícia atualizada às 21h16]
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