"Foi uma cortesia única e simplesmente, nunca associei a oferta dos relógios a nada", disse o arguido na 15.ª sessão do julgamento do caso relacionado com a alegada viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanísticos na Câmara de Gaia.
Paulo Malafaia, em prisão preventiva desde maio de 2023, está acusado de 14 crimes, designadamente três crimes de corrupção ativa, três crimes de prevaricação, um de participação económica em negócio, um de branqueamento, um de tráfico de influência, um de abuso de poderes e de quatro crimes de recebimento ou oferta indevidos de vantagem.
Segundo o Ministério Público (MP), os empresários Elad Dror e Paulo Malafaia "combinaram entre si desenvolverem projetos imobiliários na cidade de Vila Nova de Gaia, designadamente os denominados Skyline/Centro Cultural e de Congressos, Riverside e Hotel Azul", contando com o alegado favorecimento por parte de Patrocínio Azevedo que receberia, em troca, dinheiro e relógios.
O MP defende ainda que o advogado João Pedro Lopes, também arguido neste processo, fazia a ponte de Paulo Malafaia e Elad Dror com Patrocínio Azevedo.
Paulo Malafaia referiu que hoje sabe que não poderia dar os relógios ao ex-autarca devido ao código de conduto que determina que os membros do Governo e dirigentes da Administração Pública estão proibidos de receber prendas ou ofertas superiores a 150 euros.
"Era uma cortesia que hoje sei que não se pode ter porque a lei impede, soube da pior maneira com 21 meses de cadeia", salientou.
Durante o seu depoimento, Paulo Malafaia contou que quem sugeriu oferecer relógios ao antigo vice-presidente foi o advogado João Pedro Lopes dada a dimensão dos projetos que estava a desenvolver em Gaia.
Já Elad Dror, fundador do grupo Fortera, não ficou agradado com a ideia de oferecer os relógios, mas acabou por aceder, acrescentou.
Quem foi comprar e dar os relógios em 2019, 2020 e 2021 ao antigo autarca, que foram custeados pela Attic -- sociedade detida, entre outros, por Malafaia e Dror -- foi João Pedro Lopes, ressalvou.
Os relógios custaram cerca de 3.000 euros cada, revelou, acrescentando que o advogado comentou que o antigo vice-presidente gostava muito de relógios.
Questionado sobre se Patrocínio Azevedo lhe agradeceu os relógios, o empresário garantiu que este nunca lhe disse nada sobre aqueles.
"A mim nunca me agradeceu, nunca comentou, nunca disse nada e eu não lhe disse nada porque não tinha à vontade com ele", atirou.
Anteriormente, e aquando das suas declarações, o advogado João Pedro Lopes mencionou que deu os relógios ao ex-vice-presidente para "marcar pontos" e não para obter qualquer favorecimento.
Já Patrocínio Azevedo havia assumido, perante o coletivo de juízes, estar arrependido de ter aceitado os relógios como prenda de Natal não se tendo sentido, contudo, com nenhuma obrigação.
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