A Polícia Judiciária levou a cabo, esta terça-feira, oito buscas, cinco domiciliárias, duas não domiciliárias e uma a escritório de advogado, nas zonas de Lisboa, Aveiro e Porto, segundo informa a força de autoridade em comunicado enviado às redações. As buscas relacionam-se com desvio de fundos e descaminho de obras de arte do ex-banqueiro João Rendeiro que estavam à guarda da sua mulher.
De acordo com o semanário Expresso, uma das operações de busca foi realizada na moradia de Maria de Jesus Rendeiro, na Quinta Patino, em Cascais, onde a mulher de João Rendeiro se encontra em prisão domiciliária.
"Os factos em investigação são suscetíveis de integrar a prática dos crimes de branqueamento e de descaminho, relacionados com fundos que se suspeita terem sido retirados do Banco Privado Português, assim como com as obras de arte apreendidas a João Rendeiro no âmbito de processo no qual se encontra condenado", pode ler-se no comunicado.
As buscas foram realizadas no âmbito do inquérito dirigido pelo Ministério Público do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) - denominado 'Operação D´Arte Asas III' -, com a coadjuvação da Polícia Judiciária, através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção.
O inquérito ainda está em segredo de justiça. As diligências foram ordenadas na sequência das buscas realizadas em novembro com vista à recolha de prova complementar, assim como à recuperação de produto do crime, diz a mesma nota.
Em janeiro, a PJ divulgou que tinha sido recuperado na Bélgica um dos quadros da coleção de arte do ex-banqueiro João Rendeiro dado como descaminhado e que se encontrava exposto numa galeria de arte em Bruxelas.
"A obra, apreendida à ordem de um processo no qual João Rendeiro se encontra condenado numa pena de 10 anos de prisão efetiva, pela prática dos crimes de fraude fiscal qualificada, abuso de confiança qualificado e branqueamento, tinha sido descaminhada e vendida em março de 2021, pelo valor de 106.250 dólares (126.274,99 euros), através de uma leiloeira de Nova Iorque", precisou, então, a PJ.
Tratou-se de um inquérito onde, entre outros, se investiga o descaminho de obras de arte que se encontravam apreendidas.
O desaparecimento de 15 quadros da coleção de João Rendeiro motivou que a mulher, Maria de Jesus Rendeiro, fosse constituída arguida num processo ligado ao desaparecimento das obras de arte, das quais era fiel depositária, tendo sido sujeita a prisão domiciliária com vigilância eletrónica pelo Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, que entendeu existir perigo de fuga, perigo de perturbação do inquérito/investigação e perigo de continuação da atividade criminosa.
Maria de Jesus Rendeiro tinha sido detida no âmbito da operação D'Arte Asas dirigida pelo DCIAP e executada pela PJ.
A mulher de João Rendeiro era fiel depositária dos quadros arrestados ao ex-banqueiro, considerando o tribunal que esta sabia das falsificações e do desvio das obras.
Na altura da detenção da mulher, o antigo presidente do Banco Privado Português (BPP) João Rendeiro, condenado no final de setembro de 2021 a três anos e seis meses de prisão efetiva num processo por burla qualificada, estava ainda em parte incerta após ter fugido à justiça.
Detido em 11 de dezembro na cidade de Durban (África do Sul), após quase três meses fugido à justiça portuguesa, João Rendeiro foi presente ao juiz Rajesh Parshotam, do tribunal de Verulam, que lhe decretou no dia 17 de dezembro a medida de coação mais gravosa, colocando-o em prisão preventiva no estabelecimento prisional de Westville.
O ex-banqueiro foi condenado em três processos distintos relacionados com o colapso do BPP, tendo o tribunal dado como provado que retirou do banco 13,61 milhões de euros. Das três condenações, apenas uma já transitou em julgado e não admite mais recursos, tendo João Rendeiro de cumprir uma pena de prisão efetiva de cinco anos e oito meses.
João Rendeiro foi ainda condenado a 10 anos de prisão num segundo processo e a mais três anos e seis meses num terceiro processo, sendo que estas duas sentenças ainda não transitaram em julgado.
O colapso do BPP, em 2010, lesou milhares de clientes e causou perdas de centenas de milhões de euros ao Estado.
[Notícia atualizada às 14h42]
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