Mário Machado decidiu ir combater na Ucrânia - e a justiça portuguesa permitiu-o -, mas o país (mesmo em guerra) parece 'rejeitá-lo'. O adido militar da Embaixada da Ucrânia em França, Sergii Malyk, referiu, em declarações ao Diário de Notícias, que "a ausência de condenação por crimes, comprovada através do registo criminal, é um dos critérios chave para a aceitação de candidatos na Legião Internacional de Defesa Territorial das Forças Armadas da Ucrânia".
E, referindo-se ainda ao português, cadastrado em Portugal por crimes como ofensas à integridade física, discriminação racial e posse de arma proibida, afirmou: "A pessoa que refere não pode ser aceite."
Em conversa telefónica, Malyk garantiu à publicação que o nome de Mário Machado será transmitido "a todos os serviços". "Se sabem de pessoas deste tipo que queiram ir para a Ucrânia digam. Não queremos indivíduos deste género no nosso país", vincou.
De recordar que a decisão de uma juíza do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) a suspender a obrigação de Mário Machado se apresentar quinzenalmente às autoridades enquanto estiver na Ucrânia não é passível de intervenção pelo Conselho Superior da Magistratura (CSM). Entretanto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou à Lusa que "o Ministério Público vai interpor recurso" da decisão.
Já num comunicado divulgado, no sábado, a SOS Racismo "lamenta e repudia que um tribunal português tenha deferido, por razões 'humanitárias', o pedido de Mário Machado para deixar de estar obrigado ao cumprimento de uma medida de coação" de apresentação periódica quinzenal a órgão de polícia criminal.
O militante neonazi Mário Machado, arguido num processo de posse ilegal de arma, no âmbito do qual foi detido em flagrante delito na sua casa, em 9 de novembro de 2021, estava sujeito às medidas de coação de termo de identidade e residência (TIR) e obrigação de apresentações quinzenais às autoridades.
Quem é Mário Machado?
Mário Machado, de 44 anos, esteve ligado a diversas organizações de extrema-direita, como o Movimento de Ação Nacional, a Irmandade Ariana e o Portugal Hammerskins, a ramificação portuguesa da Hammerskin Nation, um dos principais grupos neonazis e supremacistas brancos dos Estados Unidos da América. Fundou também os movimentos Frente Nacional e Nova Ordem Social (NOS), que liderou de 2014 até 2019.
O nacionalista tem também um registo criminal marcado por várias condenações, entre as quais a sentença, em 1997, a quatro anos e três meses de prisão pelo envolvimento na morte, por um grupo de 'skinheads', do português de origem cabo-verdiana Alcino Monteiro na noite de 10 de junho de 1995.
Tem ainda uma outra condenação de 10 anos, fixada em 2012 por cúmulo jurídico na sequência de condenações a prisão efetiva em três processos, que incluíam os crimes de discriminação racial, ofensa à integridade física qualificada, difamação, ameaça e coação a uma procuradora da República e posse de arma de fogo.
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