Crianças refugiadas integradas em escola e clube de futebol de Anadia
Cinco crianças e jovens chegaram a Portugal da Ucrânia há menos de três semanas e encontraram em Anadia a tranquilidade necessária para regressarem à escola, voltarem a jogar futebol e respirarem um pouco da normalidade que perderam na sequência da guerra.
© Lusa
País Ucrânia/Rússia
Sava tem 11 anos e é uma destas crianças que chegou ao concelho de Anadia, no distrito de Aveiro, no dia 07.
A tia Yelena Lopes, que vive em Portugal há cerca de duas décadas, acolheu Sava e a mãe. A irmã mais velha ficou na Ucrânia.
A timidez deste menino, que frequenta agora o 4.º ano no Agrupamento de Escolas de Anadia, vai contrastando com o sorriso rasgado e cheio de orgulho de quem em poucos dias já consegue ler várias frases em português.
"A escola é ótima, tenho muitos amigos e bons professores. As pessoas não são más. Vir para Portugal foi uma boa escolha: obrigado por me receberem tão bem", leu Sava.
Já sem seguir o guião que tinha escrito num papel, sublinhou à agência Lusa que gosta de tudo em Portugal. "Quero ficar aqui até ao fim dos meus dias", traduziu a tia.
De Odessa, vieram para casa de uma tia, a viver no concelho de Anadia, três irmãos: a Olena de 16 anos, o Danilo de 13 anos e a Juliia de quatro anos.
A mãe, comandante da polícia de Odessa, foi quem os trouxe para Portugal, depois de terem dormido duas noites numa cave e terem estado uma semana na fronteira da Moldava, em casa de amigos, na expectativa de que a situação na Ucrânia melhorasse.
Depois de deixar os filhos a salvo, regressou à Ucrânia, onde tinha ficado o marido, bombeiro sapador, para se apresentar ao serviço.
"Aqui em Portugal sinto-me em segurança, mas também estou preocupada com os meus pais. Sei que tenho de aprender o português, apesar de falar inglês, integrar-me e ajudar os meus irmãos, pois não sabemos quando podemos voltar para junto dos meus pais", referiu Olena.
Danilo completou recentemente o seu 13.º aniversário, já em Portugal e, apesar de estar muito preocupado com os pais e a guerra na Ucrânia, vai-se distraindo a fazer o que mais gosta: jogar futebol.
De Odessa veio com pouca bagagem, mas carregou um saco com cinco quilogramas de medalhas que ganhou, nos últimos oito anos, a praticar esta modalidade.
"O futebol é o mais importante da minha vida", evidenciou, acrescentando que um dia gostava de jogar no Benfica.
À Lusa, o diretor do Agrupamento de Escolas de Anadia, Aníbal Marques Silva, explicou que, destes cinco alunos, dois foram integrados em turmas do pré-escolar, um no 1.º ciclo e dois no 2.º ciclo.
"Tivemos a preocupação de preparar o acolhimento, fazer a socialização que necessitam. Para isso, colocámos estes alunos em turmas onde já estavam alunos da mesma nacionalidade", descreveu.
De acordo com Aníbal Marques Silva, mais do que a vertente académica, esta primeira fase é especialmente de integração.
"Os alunos que já cá estão, mais velhos e que dominam o português, farão a mentoria, acompanhando-os para uma maior eficácia em termos de integração", frisou.
Sobre os refugiados que têm chegado ao concelho, a presidente da Câmara Municipal de Anadia, Teresa Cardoso, esclareceu que são essencialmente ucranianos que já tinham estado em Portugal ou que têm cá familiares e amigos, onde foram acolhidos.
"A primeira preocupação é que possam dirigir-se ao SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras] e consigam os documentos necessários. Havendo documentação, depois é feita a integração em escolas, nos serviços de saúde, serviços sociais, serviço de transportes, utilização de piscinas públicas ou atividades desportivas", concluiu.
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