Autarquia recusa comentar "troca de correspondência oficial" com Governo

A Câmara de Setúbal afirmou hoje que "não comenta a troca de correspondência oficial" e recusou-se a comentar o desmentido do gabinete do primeiro-ministro sobre um alegado pedido de informação acerca da associação Edinstvo, que acolhe refugiados ucranianos.

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Lusa
29/04/2022 19:50 ‧ 29/04/2022 por Lusa

País

Rússia/Ucrânia

"O gabinete do primeiro-ministro conhece o teor da carta que enviámos e o que ela expressa. Não comentamos correspondência oficial entre órgãos", disse à agência Lusa fonte do gabinete da presidência da Câmara de Setúbal, instada a comentar uma nota do gabinete do primeiro-ministro sobre o alegado pedido de informação do município ao chefe do Governo, quanto à idoneidade da Edinstvo, Associação dos Emigrantes de Leste.

O gabinete do primeiro-ministro assegurou, esta sexta-feira, que o presidente da Câmara de Setúbal não lhe pediu informações sobre a associação Edintsvo, que acolhe refugiados da guerra na Ucrânia e é alegadamente pró-regime russo.

Numa nota enviada à comunicação social, o gabinete de António Costa confirmou que, tal como havia já afirmado a autarquia, recebeu há duas semanas uma carta do presidente da Câmara de Setúbal, André Martins (eleito pela CDU), mas negou que lhe tenham sido solicitadas informações sobre a Edintsvo.

Na carta enviada ao primeiro-ministro, o presidente da Câmara de Setúbal, André Martins, apelava a António Costa para clarificar as reais intenções e a veracidade das afirmações da embaixadora da Ucrânia numa entrevista à CNN Portugal, em que a diplomata revelou que já tinha tido uma conversa com a secretária de Estado da Igualdade e das Migrações, Sara Guerreiro, sobre o envolvimento de associações pró-russas no apoio a refugiados ucranianos, dando como o exemplo a associação Edinstvo, "chefiada por Igor Khashin, um cidadão russo".

Na missiva, a que a agência Lusa teve hoje acesso, o autarca setubalense recorda que a embaixadora da Ucrânia, Inna Ohnivets, afirmou que a secretária de Estado da Igualdade e das Migrações terá concordado com a necessidade de se resolver o problema. André Martins lembra ainda que Inna Ohnivets defendeu a necessidade de se excluírem associações pró-russas do apoio aos refugiados ucranianos.

O autarca setubalense reconhece também que a Edinstvo tem um protocolo de colaboração com a Câmara Municipal de Setúbal desde 2005 e que "tem colaborado com a autarquia no acolhimento e apoio a cidadãos de vários países de leste, entre os quais a Ucrânia, sempre com a máxima diligência e discrição no tratamento de todos os processos", e apela ao primeiro-ministro para que clarifique a situação com a máxima urgência.

 "Apelamos, pois, com toda a veemência, que o senhor primeiro-ministro clarifique, com a máxima urgência, com a senhora embaixadora as reais intenções do que foi afirmado, assim como a veracidade das afirmações da diplomata no que respeita à conversa que terá mantido com a senhora secretária de Estado da Igualdade e das Migrações", lê-se na carta enviada ao primeiro-ministro.

Na missiva, André Martins diz também que "importa saber se o Governo considera aceitável este tipo de ingerências de uma representante de um país estrangeiro e que, para cúmulo, as torne públicas, transmitindo a ideia de que o Estado português está disponível para, acriticamente, acolher tais ingerências".

Na carta ao primeiro-ministro, o presidente da Câmara de Setúbal considera ainda que "a insinuação [da embaixadora da Ucrânia] de a Câmara Municipal de Setúbal, por via da sua cooperação com a Edinstvo, estar a cooperar num suposto, e completamente absurdo, fornecimento de informações sobre cidadãos ucranianos refugiados no nosso país à embaixada russa", constitui uma "insinuação indigna", que é "rejeitada com veemência" pelo município sadino.

Fonte da Câmara de Setúbal disse à agência Lusa que até hoje a autarquia sadina não recebeu qualquer resposta à carta enviada ao primeiro-ministro.

O jornal Expresso divulgou hoje que refugiados ucranianos estão a ser recebidos na autarquia por russos pró-Putin.

Segundo o jornal, pelo menos 160 refugiados ucranianos terão sido recebidos por Igor Khashin, da associação Edintsvo, e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município, que terão, alegadamente, fotocopiado documentos de identificação dos refugiados ucranianos, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara Municipal de Setúbal.

De acordo com o jornal Expresso, a Edintsvo foi subsidiada desde 2005 até março passado pela Câmara de Setúbal, e Igor Kashin e Yulia Khashin terão também questionado os refugiados sobre os familiares que ficaram na Ucrânia.

Na sequência desta notícia, a Câmara de Setúbal retirou do acolhimento de ucranianos a técnica superior de origem russa Yulia Khashin e disse que vai pedir uma averiguação ao Ministério da Administração Interna para apurar "a veracidade das suspeitas veiculadas pelo jornal Expresso, manifestando total disponibilidade para prestar toda a informação necessária".

Leia Também: AR chumba socialista para fiscalizar sistema de informação criminal

 

 

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